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sexta-feira, dezembro 12, 2008

Aplico-me

Não sei falar de nada além de mim mesmo
e isso me encomoda
As referências são somente as minhas próprias. Os autores que cito não passam dos desdobramentos de minha própria consciência.
Mas não acho que isso é a ostentação do ego. Talvez apenas antiacadêmico, pseudo-ciêntifico, se constatar-se impossível a ciência de si mesmo, uma vez que a percepção é sempre subjetiva. Mas a contradição é que estou ciente de mim se levarmos em conta o aspecto mais viceral da percepção, porque, afinal de contas, o que é a realidade senão um ponto de vista? Meu mestrado talvez fosse somente a declaração de minha experiência e os pressupostos do que julgaria ser a razão da minha existência. Mesmo que, nestes meus 24 anos, faça juízo de que de muito novo acumulo coisas que nem gostaria que fossem verdade.
Portanto, aplico-me como método.
O fato é que isso não se aceita
e isso me encomoda
O que se aceita é somente aquele gesto do mundo, sem me considerar um crivo do mundo. Já escrevi alguma vez que o tempo atravessa meus ossos nesse percurso, algo fica.
O fato é que me entrego a alguma razão intuitiva de ser o todo e não as partes
e nessa me escapam nomes, momentos, particularidades
As notas de rodapé viram pés e tudo acaba sendo a base de mim mesmo, consciente de que sou, também, o (in)consciente coletivo que me lança à maré.
Não sei falar
e isso me encomoda, porque dizer é fazer ciência e fazer-se ciente é postar-se reconhecido
O fato é que na ação das horas é que me resolvo
e dos meus gestos dou conta e só...
Afinal, não gesticulo pelos outros.

Deixe-me ir

Deixe-me ir no baixo, lento, com algumas distorções. Sem muita força.
Encher as costelas antes de pressionar os dedos, num mole caminhar por teclas, sem tônus, atonal. Meu corpo acompanha esse estado que vem do meu corpo feito som muscular.
Apita agora um ré oitavado, em intervalos de emergência chamando atenção. Um ré de timbre mestre, que vem trazendo tônus aos poucos, me enchendo de sol. Mas ainda é nublado o céu que me cobre. A escala é menor e me tranca num espaço mínimo de movimento.
Um botão! E um forte som baixo sai do meu lado esquerdo. O tônus me toma e é impossível ficar sentado, simplesmente ouvindo. Os dedos pressionam mais forte e tudo vai clareando. Deixe-me ir numa melodia clara, limpa, parece que tudo se resolve. E mais botões entram e explodem em sons que diminuem seus baixo de meio em meio tom, até retornar num Ré dominante e repousar em meus ouvidos, macio, sem distorção.
Mas e essa necessidade que tenho de me torcer o tempo todo? Todo! Traz em súbito meu dedo mindinho buscando alguma voz que me enlouqueça... só pra que eu possa repousar de novo, ovo macio, ouço um Ré belo de Cartola. Mesmo assim não deixa de ser triste a melodia, não deixa de ser triste meu caminho, não deixa de ser triste a minha trajetória.
E essa tristeza que aumenta intercalando massas sonoras com delírios de solidão, num solo de dedos que correm não mais moles, mas loucos, pressionando, numa lógica que só a beleza da loucura é capaz de proporcionar, até encontrar mais baixos e tudo romper a vastidão sonora de um abismo.
Deixe-me ir, preciso andar nessas teclas, encontrar uma saída pra que as coisas não acabem assim tão esvanecidas numa melodia triste de pé no chão e cartola. E é aí, quando, por fim, meu mindinho reverbera no dedo mediano e do ré menor eu salto pra um amor ensolarado.
É preciso renovar!
E esse acorde que me toma, faz dançar meus dedos de ambas as mãos, trazendo uma melodia que me enche as faces, me torna alegre, sintetiza o tempo, muda a estação! Minhas costelas não mais enchem lentas nem trazem o vigor do alerta, simplesmente pulsam, enchem e esvaziam numa alegria de baião.
Agora é dança, é festa, o mundo mudou, não é mesmo? Está tudo melhorado! Está tudo, assim, renovado! Sorrir!
Mas não sei porque vai me dando um frenesi nervoso. Um teleco-teco fora de compasso. Um encher e esvaziar de costelas que fica curto e não descansa nunca, e não pára nunca, e não repousa nunca! Ai que desespero desses acordes alegres que não me deixam respirar! Sorrir! Sorrir! Preciso sorrir! Sorrir pra não chorar...
Que medo do silêncio! Silêncio. Deixe-me ir baixo, lento. Mas dessa vez é rápido. E não quero mais sons que me encham, algum. Deixo o fole das minhas costelas simplesmente esvaziar, pra se encher num respiro profundo e, por vez, por fim, até, acabar.

quinta-feira, novembro 27, 2008

Inferno Astral

Escrevo minhas sinceras Cartas ao Corpo. E por um tanto de tempo, depois de um inferno astral de mal tempo, ou mau estado de humor, nesses dias, não foi por minha própria vontade que pensei pela segunda vez, desde que escrevo, em não mais entregar às teclas meus pesamentos de corpo inteiro. Sinceridade também mata e devia estar no rol de doenças contemporâneas de alto risco, de auto risco.

Pois essa atividade publica me deixa as vezes pensando que não há mais espaço pro que talvez seja o coletivo verdadeiro, que parta do indivíduo corajoso, que mostra a identidade e prepara o cerco confiante de que não está sozinho, com mais indivíduos confiantes de sua identidade, corajosos verdadeiros, preparados no coletivo... mas está sozinho. Pensei que não estava. Mas estou. Quem dá a cara a tapa, apanha. E só isso.

Pois é essa a atividade pubica, que me vira o pubis ao avesso e toda hora me pego por dentro e me perco, me cerco, me aperto e volto jogando merda na pólis. Querendo esfregar meu cheiro nas esquinas, pestiar as vistas, imprimir as fezes - a obra.

Não, não há que, se, merece, aceitar o carma que gregos são diferentes de troianos. E não sou tão puta dolor a ponto de estar dentro do cavalo discursando pra ambos.

Pois é essa, a atividade discursiva, que interrompe a ação. E é a ação, por ela própria, que se baseará minha estratégia.

Que me ilumine, então, poesias alienadas, pseudo-míticas, pseudo-críticas, pseudo-éticas, neste purgatório terreno em que resolvo me entregar às serenatas de beira-rio enquanto o mundo explode. Que seja esse meu disfarce e que conversemos mais tarde debaixo da terra ou acima da Lua, em algum próximo inferno astral, para os resultados em que a humanidade se coloca.

Quem que me cruze, que desloque.
Quem desloca, que me cruze.
Se agarrar, não me solte. Não,
não solto se me toca.
Não me toque se não peço.
E não peça pra eu sair da toca.

sexta-feira, novembro 07, 2008

A sina do circo

Vagar é preciso. Tá na hora de levantar a lona e mudar de praça. Já passou da hora. Já chegou.... já chega...

sábado, novembro 01, 2008

Corpo de Estações

Ah essas mudanças de estação me dão frenesis! Arrepios a cada volta da Terra. O fato é que todo dia agora é dia de mudança e as primaveras andam vizinhas demais de outonos, invernos e verões. Estação é manhã tarde e noite, muitas vezes divididas ainda por horas, minutos ou segundos de frios ou calores. Ao mesmo tempo que colho uma flor vejo uma árvore nua com melancolia outona, corro da chuva de pingo grosso e rasgo pra casa namorar em manto quente. Ah que sempre nessa primavera me apaixono mas logo entristeço e me tranco num inverno e, quando anoiteço, saio a voar com vagalumes de verão. As andorinhas por aqui nem vem mais que é pra não perder viagem. Esse aquecimento global que tanto me esfrega, me esfria, me põe em queda e me arrepia. Ah, essas mudanças de estação me dão frenesis! Ando agora todo dia frenético.

terça-feira, outubro 14, 2008

sexta-feira, agosto 29, 2008

Notas Sobre o Corpo

Breves em performance, postas pós experiências corporais em work(sem shop) com Eleonora Fabião.

Processos. Respostas daqui pro diante, só com retiscências...

Pergunta: O que é corpo?

... : Corpo é... conexão. Ponte, transversalidade, que enraiza a terra e infinita ao céu. Corpo é soma, mas também é uno, total sem partes, corpo. è processador ao mesmo tempo armazenador. Não como um computador numa ação de armazenar e separar em separado, mas sim uma ação fluida ininterrupta de armazenar o que se processa e processar o que se armazena. Corpo é cérebro e é cú, corpo é membros e é centro, é moral e é vontade... e também é o único capaz de transpor tudo isso...

... Corpo é baba, é unha fedida, é pêlo, cabelo, caralho. Corpo é algo mágico, porém real. O mágico sem mistério, enigma, mágica natural, da natureza que é feiticeira. Corpo também é aquilo que eu permetir que ele seja...

... Corpo é linha pra frente da vida. Não volta, não pára, não deixa de ser movimento. O que te barra, te cruza, não deixa de ser somente uma outra vida que também não pode deixar de ser esse contínuo movimento e, quando assim acontecer, que se dê a volta e descubra outro caminho. Que se atravesse, atravez de, caminhos, esse, longe, até, não sei quando, não sei onde...

... Dia 1, Dia 2 e Dia 3, respectivamente, até que chegue outra vez...

sábado, agosto 23, 2008

.

Arrisca,
Petisco de ostras podem trazer vento de pum

(Aqui é tudo muito belo e profundo)

Que se caia então à besteira
e
Viva a poesia do ridículo
e
Que nos valha os palhaçaria brasileira

terça-feira, agosto 12, 2008

Outra

Se um dia eu vencer a cidade e me entregar ao pulso de viver no mato, vou me ensaboar com sabugo de milho e me cobrir com manta de capim sidreira. E vou dormir cedo e vou acordar cedo. A noitada só será dos grilos, porque de manhã vou ganhar o sol de presente, embrulhado pra bom dia. Mas se um dia quiser escapar e ter a lua pra uma noite minha, peço com jeitinho, que é pro verde silênciar os bichos e as estrelas só se satisfazerem num voyerismo galático. Alí abraço a redonda prata que é pra amanhecer com preguiça do sol e fingir que a fadiga é saudade de alguma cidade perdida.

terça-feira, julho 29, 2008

Sem(sen)tido

Sabores
São as vezes odores. Me confundo nos sentidos... assim como vezes olho pra escutar e enxergo ondas sonoras. Sem novidades à física...

Simples é o tato. É o toque que desvenda o meio
Dos inícios e fins duvidosos. E há de ter recheio essa vida besta.
Se não sabe ainda pra que veio, dê um abraço demorado e espera reverberar...
Só depois do laço é que vem os cheiros... bufares íntimos. Daí pros gostos,
Olhos outros e mais temperos
Bastam mais abraços longos... e, ah! se demorar demais, é quase entregar a alma pra diabo alheio.

Da carne ao pensamento só há diferença de gênero.

Acordo roçando no lençol e descubro um desconforto. Um frio que sobe das canelas pra cima e um quente que só habita meus pés; da pele ao sonho, há de se fazer sonho com pele e pêlos sintonizados em sonâmbula estrada.
O caminho da cidade espera meus pés no dia seguinte e meus olhos esperam saudade...
Me descubro por inteiro que é pra perceber qual a temperatura da imensidão.

Uma camiseta basta. Mochila nas costas, pro trem! Fone de ouvido com RadioHead sem deprimidas razões; tenho a energia do dia. Trabalho pro pão, trabalho... vezes o sabor do pão é o cheiro, mas antes quero a massa, amassa, massagem...

domingo, junho 15, 2008

A vontade

Cores azuladas e azulejos
O meu advento é céu lilás.
Pela auto-estrada um fusca atento e o meu novo invento é de paz.
No muro de casa, encantamento, e numa almofada
Babo meus sonhos.
Assim, fico à vontade.
Rezo sem palavras, sem pretexto.
Não repito trechos. Nada mais
É moda e nem modelo
Nem Deus e nem meu pai.
Assim, fico à vontade.
Repaginei e imaginei aquela saudade
Do sonho, do sonho, do sonho
Achei que desencontro fosse o tempo
Em adiamento do encontrar
Risca madrugada e faça assento pra babar meus sonhos
Assim, fico à vontade.





Por enquanto estou meu próprio centro

Faz tempo que não componho... mas nunca estive tão musical. O que me escorre por dentro são algumas melodias interrompidas, as esqueço assim que me vem. Fogem ligeiras das minhas pregas envergonhadas, vocais. Só canto por dentro, desinfeto o recheio. As aqueço num atrito cortante, mas que não rompe a casca, não rompe a casa. Queria cantar sozinho num cais deserto, sem público, sem críticos, sem falsos ouvintes, falsos poetas, falos que se erguem no discurso e amolecem na prática. Regada a cerveja, não quero a criatividade de motor a álcool, barata, que não trabalha no frio. Quero a força motriz de minhas pernas que pedalam pelas curvas de uma serra virgem, amoral, se derramando, verde, me envolvendo no prazer do não tempo, em águas de lindo litoral.

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Tenho tido uma vergonha que há tempos não me compunha... mas nunca estive tão cara-de-pau. O que me ocorre é que o processo está querendo alterar a curva. Devo esperar incondicional, pronto, pra próxima candidatura de ator do ano, intelectual do ano, músico do ano, poeta do ano, gostoso do ano, circense do ano, aluno do ano, filho do ano, namorado do ano, modelo do ano, bailarino do ano, distraído do ano, bom menino do ano, maluco do ano. Do que será que me chamarão agora? Qual será minha etiqueta, de algo que ainda não sei que sou, agora? Porque me dizem sempre o que sou, se me sendo eu ainda nem me sei? Só sei que sei que me estou por dentro, morando um pouco no escuro do meu estar. Por enquanto, estou meu próprio centro...

quinta-feira, abril 03, 2008

Receitas Contemporânias Para Manter o Corpo Saudável -1


Vá até o supermercado e compre um pacote de bolacha Passa-tempo, da astronômica Nestlé. Vá para casa, ligue a TV e abra o pacote. Retire 6 pares de bolachas com o delicioso recheio de chocolate alpino e coloque de lado. Pegue par por par, abra as bolachas e desgrude o recheio delas. Coma as bolachas mas não os recheios, que devem ser empilhados um a um no dedo indicador da mão esquerda, caso seja destro, ou no dedo indicador da mão direita, caso seja canhoto. Ao final da degustação de doze bolachas Passa-Tempo, você terá em seu dedo indicador seis recheios de chocolate alpino empilhados, abra bem a boca e coloque a montanha doce marrom sobre a lingua e deixe derreter vagarosamente pela ação da saliva.

Dica: após comer as bolachas, beba meio copo d'água para lavar as papilas gustativas, para que o chocolate venha com mais sabor.

Depois deite de barriga para cima para assistir ao fantástico show da vida... não deixe de mudar de canal nos intervalos, pois assim é evitado a tentação do consumo desenfreado e também há queima de calorias com o apertar de botões e readaptação nervosa à mudança de imagens.

sexta-feira, março 28, 2008

Abertura do Balaio

Brincadeira
Pé com pé de moleque
Menina
Uma pilha duracel
Dura cem
Dura mil horas a farra
A farça
A dança... as gargalhadas
Se anima, entra na roda
Girar mais que o céu...
Porque depois cresce.
Mas se já cresceu, recomece hoje
A viver da lembrança dos tempos em que era...
- Piá! Ei Piá, o dia tá só começando, vamo que o tempo tá sem chuva e amanhã só chega depois que der o ultimo suspiro da noite. Vamos entrar você, mais eu... eu e ti. Vamo!
Jabuti.

Ciranda do Balaio

Cirandar de dia, bom dia
Cirandar de tarde, boa tarde
Cirandar de noite, boa noite.

Na casa da tia, café da tarde
Na praça vazia, beijo a noite
Ao girar ciranda, bom dia.

Abra a roda, forma o balaio
Abra a roda, forma o balaio
Abra roda, aqui, tudo vai acontecer.

quarta-feira, março 05, 2008

Entrecorpo de sol e lua

Uma noite com sol
Madrugada ensolarada

A lua pegou pelo anzol esses raios violetas
Que vez em quando entram pela minha janela para invadir meu sono em preto e branco
Imagem parada, eu alí deitado. Me vendo por fora me reconheço.

Ultramarelentas as fotografias antigas
Um sephia assim de memória, mesmo se de outro dia bater a história.
Risadas ascendem, lágrimas molham
As duas juntas abrem o prisma do arco-íris.

A lua pescou o dia pra fazer companhia, um amanhecer mais cedo encerrando a boemia e compartilhando outros olhares. Meu olho fecha um pouco quando vem o sol e solta de volta um raio ofuscante pedindo pra enviar ao mundo.

Escrevo pro mundo e ninguém há de mudar minha ânsia de artista.
Tendo em vista que a globalização não é o meu negócio, não faço questão que entendam minha lingua, mas que minhas palavras lambam os corpos de continentes, povos, fronteiras. Que ultrapasse então minha saliva pra digerir os carboidratos da prepotência humana.

Mas não importa isso agora. Importar é trazer de fora, exportar é vomitar o de dentro. Quero flutuantes as minhas auroras.

O arco-íris vai se acabando em seu leque de cores. Pintei uma aquarela em meus olhos, bem encharcada, ensanguentada de vermelho guache, com leves tons de azul oceânico do meu mar sem fim. Vou dormir... e com viajem longa, esperando acordar no horizonte navegando num navio que flutua entre o sol e a lua, numa tarde fresca de luz amena. Apenas...


terça-feira, março 04, 2008

Visto o Corpo

Como falar da minha vida sem falar dela ao certo? Metáforas... me responderiam os poetas. Performances... me diriam os interpretes. Mentiras... me diriam os amigos. Ilusões me diriam os esquizofrênicos. Como não transparecer assim, barato? Como confeccionar a roupa do rei que só os inteligentes podem ver? (visto o corpo como vestiria minha bandeira.) Tais Inteligências são de outra ordem... mais cabíveis ao todo do todo e não ao todo das partes. Essa é minha voyage solitária.

A coletiva é a celebração. Bons os momentos de alegria conjunta. Depois recolho no canto minha soledade melancólica, séria por ser serena e não por ser careta. Muito estranha uma felicidade do sozinho, do estar alí somente com motivos de memória para rir sem parar. É possível, mas não é a minha. Só é estar comigo sem meus botões. Só eu e eu somente pensando enquanto existo, existindo e sendo enquanto estou pensando e agindo... tudo junto, assim. A alegria é pra dividir, não combina com sorrisos solitários, gargalhadas malucas sem ninguém em volta... é triste. A alegria sozinha fica triste.

Minha tristeza é inteligente. Eu sou inteligente e posso ver roupas infindáveis, das mais coloridas, dos mais gerais cortes, das mais variadas origens de todo canto do mundo, gente e bicho, cada qual com sua cara, cada um com sua marca... veste, porém, todos com sua veste. Ninguém nú, ninguém de corpo em pêlo. Vejo roupas feitas sob medida, que cobrem, encobertam, escondem os suores, os odores, as cicatrizes, os desejos proibidos, o primitivo e o instinto, o intuitivo e o espiritual... ritual. Prendem o corpo e por isso também prendem o espírito.

A celebração deve ser despida. A soledade deve ser despida. As roupas são artifícios de forjamento social.

Não sou naturalista, tampouco pervertido. Observo nessa moda ver nos outros o que me mostram, além mar, além terra, além céu, além fatos, além tramas. Tirá-los a roupa é tirar seu repertório... e isso lhes tira o chão. O poço é fundo, acabou-se, e tudo será diferente então...

Disso tudo o engraçado é que a minha eu não vejo. O espelho não me mostra nem no mais privativo silêncio de horas de sozinho. Deve ser porque de algum canto sou assistido, de algum olho me pegam no vão. Minha roupa é minha pele. Não sei se porque já não tenho sobre mim os panos ou se ela própria, a roupa, não quer que a enxergue.

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Sô Nô

Sô No sense

Sô Circense

Mas não sou herói

Não me destrói porque dói

Faça o censo

Quem não diz da altura que despenca,

O arremesso,

Quem não meça o verbo que dispara... Porra!

Viva em cada tempo

Na literatura o sadomasoquismo fez suas vestes

Há quem não confesse

Chicoteia a merda no ventilador e arremessa o cavalo pra fazer vento

Sô No sense

Sô Circense

Mas não sou herói

Não me destrói porque dói

Abafa o caso

Senão pega mal pra cacete

Dizer que anda rolando porrete pra todo lado

E ao lado

Toda vida se diz perfeita até abrir a geladeira

E achar o que está fedendo

A borra do café me disse que seria assim mesmo

Tudo superaquecendo e o mundo declinando, que tudo mina

Mas isso é desculpa de precoce

Que não sente que tudo acaba só quando termina

Sô No sense

Sô Circense

Mas não sou herói

Não me destrói porque dói

Cantar de galo

Acordar desafinado

Despertador João Gilberto pra mostrar um dia incerto

Será que vale a pena?

Há mais muito do que tudo que a gente imagina

Macunaíma,

Quem diria que existiria?

Agora o anti-herói será você, improvisa...

terça-feira, fevereiro 12, 2008

O Pulso Ainda... despulsa, varia... varia, expulsa

As horas podem bater num pulso diferente. Quem disse que o tic tac é sempre equivalente? Minha música não precisa de tempo, dou a ela e dão a ela qual quiserem... As notas podem bater num pulso diferente. Assim a melodia de horas no meu dia ficam prum sentimento que me envolva, na velocidade de segundos, mesmo que os segundos durem horas. Tranportar pro tédio a vagarosidade... porque não pro prazer do brisa? Mas se tão boa também é a ventania transmitir pro ócio a pressa produtiva. Tudo é válido se for validado. Tudo é validável se tiver um olhar livre. No caso o olho fica virado pra dentro e falo do meu ouvido e dos meus dedos sem pulso musical, porque neles correm um sangue em velocidade desigual. Faço do despulso minha linguagem, expulso o que me cabe ocidental, também não me cabe oriental. Deste tictac bipolar do mundo o cosmo é que pulsa sua caocidade transcendental.

Vale citar aqui Willy Correa e John Cage

Tempo

Contra Tempo

Contra o tempo

A tempo

De dizer ao tempo

Seja diferente

Atonal

A tempo atemporal

sábado, fevereiro 09, 2008

Abril

Abriu
Janelas, portas, portões, fendas, veredas
Entrou, chorou, partiu, rachou, cortou, trilhou, ou...
Será que vai? Será que dá? Mais um abril despedaçado
Um samba assim assado
Até...
Sou um pouco de favela na maré
Revolto nas águas de março
Adiantado em fevereiro...
Abriu?
O cadeado, o fosso, o céu, o horizonte
Pisei na poça até a canela e afundei o pé na lama
Reclama, reclama... estou sozinho em casa denovo e te escrevo por telepatia
Proclama, proclama... a independência é uma questão de grito, rio e espada em riste
Pau na mão Ipiranga.
Qual meu córrego? Me encha março, pra derramar abril nas margens e abrir em maio algo maior que Juno
Em junho: vamos dançar quadrilha...

sábado, janeiro 26, 2008

Encorpar

Um certo momento de ar. Um respiro fundo, pro fundo, lá em baixo, d'onde brota os nutrientes da terra. Suspender o tédio e sustentar a euforia, precisa de sustança, precisa. E quem avisa amigo é: coma brócolis e durma bem, pra ver o dia nascer diferente.

Uma nau veio me buscar, voar pra longe do labirinto. Um certo Ícaros sem a fatalidade da morte. Vôo de trapézio com lonja no lugar certo. O risco é o que sustenta o circo e o circo o que sustenta... me sustenta.

Não ter medo do vôo não ter medo
Cedo
Acorda só de meio olho, deixar o outro
Sonho. Ando e não acaba a areia. Suspender o quente e sustentar o deserto, pra trazer o novo perto, fresco, com muito ar. Encorpar a sede pra ir fundo na vontade, continuar.

sexta-feira, janeiro 18, 2008

Não deu samba

Um bamba correto, quadrado, singelo, quatro tempos no bumbo, dobrado na caixa, desclaço o reco-reco, cuíca de sapato sem sola, guardada. Sexta-feira sem festa, sem parte alguma que presta, capenga, de cabeça cheia. Eu não bebo, não saio pra jogar bola, não sei da galera do bairro, de vez em quando pego na viola e já cansa. Descanso e rodo na varanda, abro a geladeira só por abrir sem saber se quero nada ou alguma coisa gelada que molhe a garganta, congele o cérebro, derreta em meus pés algo maior que a piscina de Ramos, a poça da chuva de hoje ou a chuva da próxima temporada. Lua chata que fica escondida sem pressa e nem vê que o sol já adianta o dia e o despertador - as horas da noite passam mais depressa. As do recreio também. O difícil é vencer o tédio, vender a fossa e alugar a poesia num mundo onde só querem prosa. E o enredo é sempre igual... Não deu samba, a mulata torceu o pé e caiu do salto, o Rei Mômo ficou magro e na avenida, pedágio. Vou ver se entro na bateria e agito o chocalho pra melhorar o programa de índio. Mestre da harmonia, é disso que a escola precisa...

quarta-feira, janeiro 16, 2008

estético Corpo ético

No meu texto, em
plural
, aural, neural-físico, entorpe e sente o início de outra necessidade
singular
No meio do meu texto, pouco
namoro entre as palavras
o amor também enrouquece a fala
Agora muda tudo
Claro, fica claro, e a composição falará um pouco mais sobre a natureza, a estética e a ética sob a copa de árvores e seivas de bares.
Minha vida aqui, só
Sem personificações ou referências
Há coisas mais importantes do que as adolescências pueris de um qualquer escritor de páginas binárias de um sistema intermundial.
Quem disse que quero falar pro mundo?
Falarei pra sorte
pro tempo, pro peito
O mundo é estar somente.

Detalhes, falarei de detalhes
Ignorantes
Mas que em minhas mãos se farão belos
Estéticamente éticos
Éticamente estéticos
Neuróticos enquanto sílabas ácidas
Esquizofrênicos enquanto imagens plácidas.
Esse sonho que nunca chega e fica paralizada outra realidade
Menos direta, mais cheia de charme.

Não quero desse espaço confidência,
Fique aqui com meu olhar-te como olham os olhos da frase: sujeito e predicado
Que não se saia então ninguém, por bem,
prejudicado

H

OHO
MEM

ou um hai cai apenas...
...menino.

domingo, janeiro 06, 2008

Corpos

Minha vida alí, deitada ao contrário, pegando a coberta de lado, emburrada, madrugada, nem se meche. Um bruços fechado sem papo nem toque, sem baque ou ibope, nem truque, nem saque um carinho que não adianta. Nem cheiro de bom humor... minha vida alí, uma juventude de arrastão, inquieta, arredia ao mesmo tempo que seresteira. Uma discussão besta, uma noite perdida de um dia esquisito. Madruga emburrada a dentro e só um daqueles momentos em que o sono não vem. Fugir um tapa... dá vontade de tomar loucura pra ter porre de liberdade. Minha vida alí bufando a agonia e resmungando a má educação, só geme se tiver alforria e só goza se achar que vale o disperdício de energia, pena
não ter um travesseiro pra cobrir o desgosto, apagar o rosto e tampar a respiração. Durmo sem, prefiro a coluna reta no colchão de mola, lançando sonhos em saltos ao alto, lá batem no teto e matam pernilongos. Voltam me dando um sono tranquilo. Minha vida alí e minha noite em algum outro lugar lá fora. Minha vida alí na cama, deixando com o peso a forma, com o suor o cheiro, com a baba a digestão destes tempos sem sono.
Minha morte... distante. Tenho o prazer da sorte.
Me vale seus olhos, não me deixe dormir sem seus olhos, não durma, não suma, não voe sem que me olhes com estes olhos que por enquanto...
Minha vida alí a sete braços cruzados, coração fechado, deitada de costas, pernas no peito, guardada em caramujo, "não me toque, não me alcance, não me acorde". Assisto de fora no escuro, madrugada emburrada. Que amanheça o dia, que chegue outra espera
esperança...

quinta-feira, janeiro 03, 2008

Corparto

Criar assim é parir um filho, solitário, nas virtudes e virtualidades que me enchem a cara de luz, da tela, do quarto, da janela. Me enche essa lua lá fora com chuva. Meu fusca na garagem e minha moça na rua. Me ofusca uma solidão assim internética. Voltei da praia, voltei de férias. Depois de um tempo largo, a vida continua nessa cidade veloz, tão, tão, tão menos rápida quanto a minha voltade de partir pra qualquer buraco de mato novamente. Parto, corpo, corparto, parindo e fugindo. Crio em mim essa semelhança imagem sombra que vem com o sol nascendo e vai no poente, permance só se há luz ambiente. Na escuridão me anulo sombra e permaneço só calor. Há nesses momentos quem me beije. Ar-dor.