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sexta-feira, março 28, 2008

Abertura do Balaio

Brincadeira
Pé com pé de moleque
Menina
Uma pilha duracel
Dura cem
Dura mil horas a farra
A farça
A dança... as gargalhadas
Se anima, entra na roda
Girar mais que o céu...
Porque depois cresce.
Mas se já cresceu, recomece hoje
A viver da lembrança dos tempos em que era...
- Piá! Ei Piá, o dia tá só começando, vamo que o tempo tá sem chuva e amanhã só chega depois que der o ultimo suspiro da noite. Vamos entrar você, mais eu... eu e ti. Vamo!
Jabuti.

Ciranda do Balaio

Cirandar de dia, bom dia
Cirandar de tarde, boa tarde
Cirandar de noite, boa noite.

Na casa da tia, café da tarde
Na praça vazia, beijo a noite
Ao girar ciranda, bom dia.

Abra a roda, forma o balaio
Abra a roda, forma o balaio
Abra roda, aqui, tudo vai acontecer.

quarta-feira, março 05, 2008

Entrecorpo de sol e lua

Uma noite com sol
Madrugada ensolarada

A lua pegou pelo anzol esses raios violetas
Que vez em quando entram pela minha janela para invadir meu sono em preto e branco
Imagem parada, eu alí deitado. Me vendo por fora me reconheço.

Ultramarelentas as fotografias antigas
Um sephia assim de memória, mesmo se de outro dia bater a história.
Risadas ascendem, lágrimas molham
As duas juntas abrem o prisma do arco-íris.

A lua pescou o dia pra fazer companhia, um amanhecer mais cedo encerrando a boemia e compartilhando outros olhares. Meu olho fecha um pouco quando vem o sol e solta de volta um raio ofuscante pedindo pra enviar ao mundo.

Escrevo pro mundo e ninguém há de mudar minha ânsia de artista.
Tendo em vista que a globalização não é o meu negócio, não faço questão que entendam minha lingua, mas que minhas palavras lambam os corpos de continentes, povos, fronteiras. Que ultrapasse então minha saliva pra digerir os carboidratos da prepotência humana.

Mas não importa isso agora. Importar é trazer de fora, exportar é vomitar o de dentro. Quero flutuantes as minhas auroras.

O arco-íris vai se acabando em seu leque de cores. Pintei uma aquarela em meus olhos, bem encharcada, ensanguentada de vermelho guache, com leves tons de azul oceânico do meu mar sem fim. Vou dormir... e com viajem longa, esperando acordar no horizonte navegando num navio que flutua entre o sol e a lua, numa tarde fresca de luz amena. Apenas...


terça-feira, março 04, 2008

Visto o Corpo

Como falar da minha vida sem falar dela ao certo? Metáforas... me responderiam os poetas. Performances... me diriam os interpretes. Mentiras... me diriam os amigos. Ilusões me diriam os esquizofrênicos. Como não transparecer assim, barato? Como confeccionar a roupa do rei que só os inteligentes podem ver? (visto o corpo como vestiria minha bandeira.) Tais Inteligências são de outra ordem... mais cabíveis ao todo do todo e não ao todo das partes. Essa é minha voyage solitária.

A coletiva é a celebração. Bons os momentos de alegria conjunta. Depois recolho no canto minha soledade melancólica, séria por ser serena e não por ser careta. Muito estranha uma felicidade do sozinho, do estar alí somente com motivos de memória para rir sem parar. É possível, mas não é a minha. Só é estar comigo sem meus botões. Só eu e eu somente pensando enquanto existo, existindo e sendo enquanto estou pensando e agindo... tudo junto, assim. A alegria é pra dividir, não combina com sorrisos solitários, gargalhadas malucas sem ninguém em volta... é triste. A alegria sozinha fica triste.

Minha tristeza é inteligente. Eu sou inteligente e posso ver roupas infindáveis, das mais coloridas, dos mais gerais cortes, das mais variadas origens de todo canto do mundo, gente e bicho, cada qual com sua cara, cada um com sua marca... veste, porém, todos com sua veste. Ninguém nú, ninguém de corpo em pêlo. Vejo roupas feitas sob medida, que cobrem, encobertam, escondem os suores, os odores, as cicatrizes, os desejos proibidos, o primitivo e o instinto, o intuitivo e o espiritual... ritual. Prendem o corpo e por isso também prendem o espírito.

A celebração deve ser despida. A soledade deve ser despida. As roupas são artifícios de forjamento social.

Não sou naturalista, tampouco pervertido. Observo nessa moda ver nos outros o que me mostram, além mar, além terra, além céu, além fatos, além tramas. Tirá-los a roupa é tirar seu repertório... e isso lhes tira o chão. O poço é fundo, acabou-se, e tudo será diferente então...

Disso tudo o engraçado é que a minha eu não vejo. O espelho não me mostra nem no mais privativo silêncio de horas de sozinho. Deve ser porque de algum canto sou assistido, de algum olho me pegam no vão. Minha roupa é minha pele. Não sei se porque já não tenho sobre mim os panos ou se ela própria, a roupa, não quer que a enxergue.