Pesquisar este blog

terça-feira, março 17, 2015

Perceber que meu corpo é meu sagrado e meu profano, minha vida e minha morte, aquilo que afirmo e a via por onde nego, minha natureza e meu Deus. Não digo "amém", digo "amem". Não peço "paz", respiro profundo e olho para o céu.

No balanço dos 30, depois dos 29, com retorno de Saturno, a gente pesa muita coisa. Muita coisa mesmo. A qualidade de vida, as escolhas, a colheita, o por vir. Esses dias fui ler postagens antigas de um blog que escrevo (e escrevi muito mais em outros momentos) há mais de 10 anos. O desejo na época era experimentar a novidade, como um bom sagitariano. Depois era de experimentar a mim mesmo. Depois de experimentar a experiência da vida, qualquer fosse ela "experiência", qualqeur fosse ela "vida. Entre desabafos e poesias, tentativas frustadas de refletir a existência (e nem por isso desinteressantes) eu meio que fui desistindo dele. Tipo meio que fui. Falta de tempo, falta de desejo, descontentamento com as coisas, com a vida, com as pessoas, com a arte... mas fui desistindo também porque fui e fomos ficando entregues a essa janelinha fastfood do facebook, onde tudo é tudo, nada é nada, nada é tudo, tudo é nada, mas tudo, tudo mesmo, passa... nada fica. Um cardápio de reflexões de ultima hora, como essa, que serve para irritar, curtir, compartilhar e morrer no post seguinte.

Enfim...

não escrevo nenhuma novidade. Não é um pensamento original, tampouco tem a intenção de ter. Só escrevo porque pulsa escrever de vez em quando, principalmente quando silencio no meio de tanto barulho. Tanto que no fim resolvi escrevir aqui mesmo (e também lá no blog).

Em um momento de histeria coletiva acho que a atitude mais revolucionária é respirar fundo e olhar para o céu. Perceber o infinito do dentro e o infinito do fora.

Isso implica em muitos questionamentos, do existir, existir-se, insistir em existir. No meu caso (leia bem, no meu caso), isso significa aprender a falar "não" ao invés de conceder tantos sins. Também é saber dizer "com licensa, agora é a minha vez", afinal foram tantos que deixei passar na minha frente, mesmo quando o combinado parecia ser "vamos juntos". Também poder dizer "não estou certo disso. Tenho dúvidas". Tantas são as dúvidas. É como se preciso fosse virar pra banda e dizer "galera, amo vocês mas preciso seguir carreira solo". Ou pra família e falar "amo a companhia de todos, mas preciso viajar para lugares desconhecidos do mundo e de mim". Ao mesmo tempo olhar nos olhos de quem depositaste anos e anos no cofre do amor e sacramentar "se segue ao meu lado não me faça segurar o pavil que acendes, já sei que no final há uma bomba, não vou esperar que estoure". Aprender a dizer na cara do outro que ele é frouxo, é covarde, foge de si e dos outros, principalmente de si, portanto dizer "se deixe em paz para me deixar em paz também". Sacar que apostar em si não é ser individualista. Sacar que depender dos outros não é ser insuficiente. Sacar que resolver assim que pode, não adiar decisões, errar e admitir o erro, manter a coluna alinhada quando te forçam a baixar a cabeça, é ter humildade sem perder a dignidade. Ter esperança só até que o saco encha, depois mover-se diferente, mudar a dança. Mandar à merda pode ser saudável. Manter os dogmas não. Ligar o foda-se com responsabilidade é um paradoxo essencial da vida, principalmente naqueles momentos em que você faz o balanço do tanto de merda alguém já fez pra você. Então, foda-se e não acomode-se, siga em frente nem se for para bolar um plano de vingança e desistir depois. Pelo menos fez alguma coisa. Aprender que a carne é fraca mesmo, sobretudo para a emoção cristã catártica do perdão e compaixão. Entender que talvez te falte testosterona, muitas vezes falta raiva no sangue para me mover. Aceitar não sou um bom xavequeiro, pegador, que já passei muita vontade por timidez e excesso de justiça. Que o preço pelo respeito pode ser a imagem cristalizada do bom moço fofo. As pessoas terão medo de você, ou falta de jeito. Achar que os santos dos outros são sempre mais fortes que o seu. Você não sabe mentir, não sabe esconder, não sabe ser falso, não sabe manipular, sempre será pego, mesmo tendo vivido tantas experiências que poderiam ter te ensinado o contrário. Aprender que este texto é longo demais e pouco imagético para o facebook e talvez quase ninguém tenha chegado até aqui (devia ter escrito em tópicos). Perceber que se encontrar no mundo é muito mais difícil que conhecer o mundo, mesmo lendo postagens que citam Osho, Da Lai Lama ou Marilena Chauí. Aprender definitivamente que os partidos políticos dividem o país de propósito e que o totalitarismo quer unir pela força de propósito. Nem uma coisa e nem outra se mostrou interessante na história, portanto não entender definitivamente porque isso é reproduzido em todas as relações familiares, sociais, amorosas, profissionais, quiçá até nas extraterrestres.

Perceber que meu corpo é meu sagrado e meu profano, minha vida e minha morte, aquilo que afirmo e a via por onde nego, minha natureza e meu Deus. Não digo "amém", digo "amem". Não peço "paz", respiro profundo e olho para o céu.