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terça-feira, março 04, 2008

Visto o Corpo

Como falar da minha vida sem falar dela ao certo? Metáforas... me responderiam os poetas. Performances... me diriam os interpretes. Mentiras... me diriam os amigos. Ilusões me diriam os esquizofrênicos. Como não transparecer assim, barato? Como confeccionar a roupa do rei que só os inteligentes podem ver? (visto o corpo como vestiria minha bandeira.) Tais Inteligências são de outra ordem... mais cabíveis ao todo do todo e não ao todo das partes. Essa é minha voyage solitária.

A coletiva é a celebração. Bons os momentos de alegria conjunta. Depois recolho no canto minha soledade melancólica, séria por ser serena e não por ser careta. Muito estranha uma felicidade do sozinho, do estar alí somente com motivos de memória para rir sem parar. É possível, mas não é a minha. Só é estar comigo sem meus botões. Só eu e eu somente pensando enquanto existo, existindo e sendo enquanto estou pensando e agindo... tudo junto, assim. A alegria é pra dividir, não combina com sorrisos solitários, gargalhadas malucas sem ninguém em volta... é triste. A alegria sozinha fica triste.

Minha tristeza é inteligente. Eu sou inteligente e posso ver roupas infindáveis, das mais coloridas, dos mais gerais cortes, das mais variadas origens de todo canto do mundo, gente e bicho, cada qual com sua cara, cada um com sua marca... veste, porém, todos com sua veste. Ninguém nú, ninguém de corpo em pêlo. Vejo roupas feitas sob medida, que cobrem, encobertam, escondem os suores, os odores, as cicatrizes, os desejos proibidos, o primitivo e o instinto, o intuitivo e o espiritual... ritual. Prendem o corpo e por isso também prendem o espírito.

A celebração deve ser despida. A soledade deve ser despida. As roupas são artifícios de forjamento social.

Não sou naturalista, tampouco pervertido. Observo nessa moda ver nos outros o que me mostram, além mar, além terra, além céu, além fatos, além tramas. Tirá-los a roupa é tirar seu repertório... e isso lhes tira o chão. O poço é fundo, acabou-se, e tudo será diferente então...

Disso tudo o engraçado é que a minha eu não vejo. O espelho não me mostra nem no mais privativo silêncio de horas de sozinho. Deve ser porque de algum canto sou assistido, de algum olho me pegam no vão. Minha roupa é minha pele. Não sei se porque já não tenho sobre mim os panos ou se ela própria, a roupa, não quer que a enxergue.

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