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sábado, janeiro 26, 2008

Encorpar

Um certo momento de ar. Um respiro fundo, pro fundo, lá em baixo, d'onde brota os nutrientes da terra. Suspender o tédio e sustentar a euforia, precisa de sustança, precisa. E quem avisa amigo é: coma brócolis e durma bem, pra ver o dia nascer diferente.

Uma nau veio me buscar, voar pra longe do labirinto. Um certo Ícaros sem a fatalidade da morte. Vôo de trapézio com lonja no lugar certo. O risco é o que sustenta o circo e o circo o que sustenta... me sustenta.

Não ter medo do vôo não ter medo
Cedo
Acorda só de meio olho, deixar o outro
Sonho. Ando e não acaba a areia. Suspender o quente e sustentar o deserto, pra trazer o novo perto, fresco, com muito ar. Encorpar a sede pra ir fundo na vontade, continuar.

sexta-feira, janeiro 18, 2008

Não deu samba

Um bamba correto, quadrado, singelo, quatro tempos no bumbo, dobrado na caixa, desclaço o reco-reco, cuíca de sapato sem sola, guardada. Sexta-feira sem festa, sem parte alguma que presta, capenga, de cabeça cheia. Eu não bebo, não saio pra jogar bola, não sei da galera do bairro, de vez em quando pego na viola e já cansa. Descanso e rodo na varanda, abro a geladeira só por abrir sem saber se quero nada ou alguma coisa gelada que molhe a garganta, congele o cérebro, derreta em meus pés algo maior que a piscina de Ramos, a poça da chuva de hoje ou a chuva da próxima temporada. Lua chata que fica escondida sem pressa e nem vê que o sol já adianta o dia e o despertador - as horas da noite passam mais depressa. As do recreio também. O difícil é vencer o tédio, vender a fossa e alugar a poesia num mundo onde só querem prosa. E o enredo é sempre igual... Não deu samba, a mulata torceu o pé e caiu do salto, o Rei Mômo ficou magro e na avenida, pedágio. Vou ver se entro na bateria e agito o chocalho pra melhorar o programa de índio. Mestre da harmonia, é disso que a escola precisa...

quarta-feira, janeiro 16, 2008

estético Corpo ético

No meu texto, em
plural
, aural, neural-físico, entorpe e sente o início de outra necessidade
singular
No meio do meu texto, pouco
namoro entre as palavras
o amor também enrouquece a fala
Agora muda tudo
Claro, fica claro, e a composição falará um pouco mais sobre a natureza, a estética e a ética sob a copa de árvores e seivas de bares.
Minha vida aqui, só
Sem personificações ou referências
Há coisas mais importantes do que as adolescências pueris de um qualquer escritor de páginas binárias de um sistema intermundial.
Quem disse que quero falar pro mundo?
Falarei pra sorte
pro tempo, pro peito
O mundo é estar somente.

Detalhes, falarei de detalhes
Ignorantes
Mas que em minhas mãos se farão belos
Estéticamente éticos
Éticamente estéticos
Neuróticos enquanto sílabas ácidas
Esquizofrênicos enquanto imagens plácidas.
Esse sonho que nunca chega e fica paralizada outra realidade
Menos direta, mais cheia de charme.

Não quero desse espaço confidência,
Fique aqui com meu olhar-te como olham os olhos da frase: sujeito e predicado
Que não se saia então ninguém, por bem,
prejudicado

H

OHO
MEM

ou um hai cai apenas...
...menino.

domingo, janeiro 06, 2008

Corpos

Minha vida alí, deitada ao contrário, pegando a coberta de lado, emburrada, madrugada, nem se meche. Um bruços fechado sem papo nem toque, sem baque ou ibope, nem truque, nem saque um carinho que não adianta. Nem cheiro de bom humor... minha vida alí, uma juventude de arrastão, inquieta, arredia ao mesmo tempo que seresteira. Uma discussão besta, uma noite perdida de um dia esquisito. Madruga emburrada a dentro e só um daqueles momentos em que o sono não vem. Fugir um tapa... dá vontade de tomar loucura pra ter porre de liberdade. Minha vida alí bufando a agonia e resmungando a má educação, só geme se tiver alforria e só goza se achar que vale o disperdício de energia, pena
não ter um travesseiro pra cobrir o desgosto, apagar o rosto e tampar a respiração. Durmo sem, prefiro a coluna reta no colchão de mola, lançando sonhos em saltos ao alto, lá batem no teto e matam pernilongos. Voltam me dando um sono tranquilo. Minha vida alí e minha noite em algum outro lugar lá fora. Minha vida alí na cama, deixando com o peso a forma, com o suor o cheiro, com a baba a digestão destes tempos sem sono.
Minha morte... distante. Tenho o prazer da sorte.
Me vale seus olhos, não me deixe dormir sem seus olhos, não durma, não suma, não voe sem que me olhes com estes olhos que por enquanto...
Minha vida alí a sete braços cruzados, coração fechado, deitada de costas, pernas no peito, guardada em caramujo, "não me toque, não me alcance, não me acorde". Assisto de fora no escuro, madrugada emburrada. Que amanheça o dia, que chegue outra espera
esperança...

quinta-feira, janeiro 03, 2008

Corparto

Criar assim é parir um filho, solitário, nas virtudes e virtualidades que me enchem a cara de luz, da tela, do quarto, da janela. Me enche essa lua lá fora com chuva. Meu fusca na garagem e minha moça na rua. Me ofusca uma solidão assim internética. Voltei da praia, voltei de férias. Depois de um tempo largo, a vida continua nessa cidade veloz, tão, tão, tão menos rápida quanto a minha voltade de partir pra qualquer buraco de mato novamente. Parto, corpo, corparto, parindo e fugindo. Crio em mim essa semelhança imagem sombra que vem com o sol nascendo e vai no poente, permance só se há luz ambiente. Na escuridão me anulo sombra e permaneço só calor. Há nesses momentos quem me beije. Ar-dor.