Pesquisar este blog

terça-feira, março 25, 2014

da série Sem Açúcar, Sem Afeto

#4

A espera é particular. Ninguém
Ninguém mesmo sabe o que te espera
Se espera, quando espera,
O nascimento de um filho
O renascimento com a morte
A palavra divina
A grande revelação. 
Ou não, talvez saiba. 
Talvez caiba alguma doçura na espera. 
Talvez seja ela uma angústia, pleonasmo
Doce de açúcar, sarcasmo da vida,
Amor que míngua
Vai matando aos poucos 
Aos poucos
Enquanto saliva
Vai matando aos poucos
Bem aos poucos
Pelos breves prazeres da língua. 

Corpo Retórico

Organizarei um grande desfile socrático. Modelos padrão irão desfilar vestindo as mais belas retóricas, criadas pelos mais badalados estilistas. Contemplará o desfile toda a alta gramática, que, mesmo 'demodê', saboreará taças de Moët & Chandon enquanto tece comentários redundantes sobre o modelo retórico em exposição.

Organizarei um grande desfile socrático. Ao final canapés com gosto de bunda serão servidos em reluzentes bandejas de prata. Gargalhadas forçadas serão a sonoplastia de conversas pseudocultas, como piadas que ninguém entende mas ri, ri, ri alto para mostrar que está feliz. 

Organizarei um grande desfile socrático. Terminado em orgia, mulheres de plástico e pintos drogados, frutos de dólares e dólares de investimento, farão do sexo algo chique, com sujeitos e predicados de alta etiqueta, usando máscaras filosóficas da mais alta qualidade capazes de esconder rostos aventurando-se em elocubrações orgásticas extraconjugais. 

Organizarei um grande desfile socrático... e ficarei ali olhando tudo se acabando, tudo se morrendo, só para me perguntar de forma retórica se a vida é viva mesmo. 

terça-feira, março 18, 2014

Quero ser Leandro Hoehne, enquanto outros só querem me-ter...

Estou eu aqui pensando na vida. Estou eu ali pensando na vida. Eu e meu duplo. Numa mesa redonda de cozinha, um vaso de flores rosas e roxas, uma toalhinha, uma caixinha de maçã que me azedou uma barra de cereais rançosa. Queria mesmo era devorar uma barra de versos, mas no momento só me vem prosa. Estou bem aqui na minha frente. Me olhando nos olhos, braços erguidos, matando pernilongos que se aproximam. Me sinto poderoso com esse espírito matador. Os olhos fundos, a barba por fazer, um desejo de vingança. Por dentro há dança, um tango dramático ao pé do ouvido como num filme de Al Pacino - seduzindo mulheres, sendo bandido. E fico me olhando como se não me conhecesse mais. Fico me olhando como um lobisomem em lua cheia, com medo de mim próprio e admiração também. Diferente de Narciso, sou capaz de matar minha imagem num ato simbólico de suicídio. E não me represento mais, não me reconheço. Essa barba já não é minha e a música do Arnaldo Antunes soa como babaquisse na voz do Nando Reis a cada vez que meu duplo me olha mais fundo. É um pouco de auto-autoanalise. Um pouco de 'se enxerga' como dizem as crianças umas as outras na periferia. Tô me enxergando e gosto do que vejo, o que não significa que seja bom, tão pouco que seja mal. Não é reflexo, é outro de mim. Só quero isso agora, só isso:

Quero ser Leandro Hoehne, enquanto outros só querem me-ter...

da série Sem Açúcar, Sem Afeto #2

Arrastada 250m. 
Seu céu começou no chão
Família chorar no caixão
Sei como é. 
Chá de cidreira é cachaça
Pra mídia, rótulo: desgraça
Mas sei o que é:
É nuca furada de bala -
Papo reto -
Café sem açúcar
Coração sem afeto. 

da série Sem Açúcar, Sem Afeto #1

Não faça a barba, faça amor? Faça a barba e faça amor. Passe os dois na navalha.
E faça dobrado depois. 

da série Sem Açúcar, Sem Afeto #3

Se me mordesse

me lambesse 

me chupasse

veria que amargura é o que me resta

Aqui dentro não há festa

só café com chocolate

quinta-feira, março 06, 2014

Corpo ...

Quero corpo
E não me diga não
Não me diga sim
Me diga
Não
Não me diga 
Nada
Não me diga nada
...
Quero corpo
Pingando
.
.
.
Em silêncio