Das mudanças do corpo cabem as circunstâncias da vida. Cresço e, ao que amadureço, me escancaro. Aqui há minha porta aberta, onde parte o prolongamento de meus braços e pernas além do meu ego de ator e força circense. Partem minhas palavras em corpo, em carta, em viva poesia, mesmo se em prosa vier a narrativa. Sei que espiam e não deixam pistas, mas, se puderem, comentem... e deixem um pouco da sua carne poética em minha cerne criativa. Experimentem...
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quinta-feira, outubro 25, 2012
Corpo Melado
Pernas abertas virilhas ciumentas
Úmido cheiro toque abraço beijo
Entre pernas abertas toque
Cheiro laço úmido virilha aberta costas lisas beijo
Ciumento abraço toque pernas abertas virilhas abertas abraços abertos apertos laços abertos mais perto penetro
Corpo fechado
Cheiro de mel.
quarta-feira, outubro 24, 2012
Corpo Bem Zen Mal
Não me peça espetáculo quando estou todo ensaio
Não me peça preparo quando estou todo acontecimento
Não me peça ordem quando estou todo confusão
Não me peça caminho quando estou bifurcação.
Meu zen
Me peça barulho se estou na nua carne do ser
Me peça enxoval se perceber um algo mais
Me peça uma reza para sua missa dominical
Me peça pecado quando estiver baixo astral
Meu mal
Me perca no umbigo e me ache
Me ache nas veias e se mostre
Se mostre centelha e me encharque
Me encharque de sangue, xeque-mate
quarta-feira, outubro 10, 2012
Corpo Vingança
A questão é... no nível pessoal: uma pessoa, que poderia ser policial ou bandido, matou meu pai, uma pessoa também, para roubar o carro da empresa em que trabalhava - pessoa jurídica do corporativismo multinacional, criada para lucrar com a exploração do trabalhador e dos recursos naturais controlados pelo Estado. A instituição polícia não fez nada, arquivou o processo e o caso é uma incógnita. A instituição empresa multinacional perdeu o bem carro e o bem funcionário, que alugava mediante salário razoável, e ajudou a familía nesse momento difícil com o enterro. O vizinho que viu tudo também não fez nada, cidadão de direitos e deveres, preferiu calar por medo ou comodidade mesmo.
Eu, ser-humano que sou, que ouvi tudo acontecer e vi cruamente de perto o desfecho, com sede incontrolável de vingança, colocaria a polícia, o bandido, o vizinho e o patrão multinacionalista de mãos dadas. Me armaria de armamento pesado até os dentes. Engatilhava a sanfona e dispararia acordes maiores, menores e dissonantes no peito de todos. Puxaria um Si menor na sanfona e convidaria a todos para dançar uma ciranda, dança de roda para as crianças que, como pessoas, todos um dia foram... O militar, o civil, o Estado e a indústria.
A isso daria o nome de Roleta Brazuca ou O Dia em Que eu Fiquei Zica... Depois colocaria as fotos no facebook pra vcs curtirem de seu confortável sofá ou cadeira de escritório.
terça-feira, outubro 09, 2012
quinta-feira, outubro 04, 2012
quarta-feira, outubro 03, 2012
Corpo Esquema
De poesia e de prosa
E só querer ter carrão
Tipo uma Kombi pra levar a galera
O esquema é ter costas largas...
De tanto tocar sanfona e voar no trapézio
Ser influente
Influenciar pro bem a molecada
O esquema é só ter esquema com magrela...
Dar carona na garupa da bicicleta
E correr tocando campainha dos outros
Pra dizer que no bairro vai ter teatro de graça
O esquema é tentar a sorte no jogo...
De fim de semana, no futebolzinho que a gente tanto ama
E não faltar com amor na cama
Na mesa e no olhar mesmo pra quem desanda, se arma e desama
O esquema é ferrar com tudo...
Ferrar com tudo que põe ferradura em sonho
E partir pra guerra
A guerra contra os valores que encabrestam todos
Ora, então ponho
Ponho mesmo
Ponho meu verbo no mundo.
Deponho meu esquema vadio,
Ofereço meu corpo.
Ponho
Ponho emoção no pensamento e penso que desisto de criar caso só pra ver se crio outro
Outro
Outro
Os outros
Outras possibilidades do impossível. Talvez a periferia não seja invisível
Então o esquema é ir pra cima...
Fazer amor
Por cima e por baixo
Ir pra praça e pra rima
Depois que começa...
Nunca termina
quinta-feira, agosto 30, 2012
Pseudo-sociedade
Acomodada com seus pseudo-empregos
Acomodada com seus pseudo-casamentos felizes
Acomodada com sua pseudo saúde
Acomodada pela sua pseudo-cidade.
Acomodada.
Porra de sociedade frígida do caralho
Frigida com seu pseudo-status
Frigida com seu pseudo-delírio
Frigida com sua pseudo-utopia
Frigida pela sua pseudo-fé.
Frígida.
Porra de sociedade carente do caralho
Carente de atenção de seu pseudo-patrão
Carente de alegria de seu pseudo-time-de-futebol
Carente de emoção de sua pseudo dramaturgia televisiva.
Carente.
Porra de sociedade careta do caralho
Careta com sua pseudo-consciência drogada
Careta pelo seu nerdismo de pseudo-avanço-tecnológico
Careta pelas suas pseudo-filosofias de autoajuda
Careta por suas reais mascaras sociais.
Careta.
Porra de sociedade vazia do caralho
Vazia pela sua pseudo-religião
Vazia pela sua pseudo-educação
Vazia pela real falta de poesia
Vazia pelos pseudo-corpos que andam por aí robotizados.
Vazia.
Porra de sociedade autoritária do caralho
Autoritária pelo pseudo-carinho familiar
Autoritária com sua pseudo-verdade das frases prontas
Autoritária pelo pseudo-senso-coletivo da democracia representativa
Autoritária pela pseudo-ignorância, disfarçada de pseudo-humildade
Autoritária pela falta de real noção altruísta.
Autoritária.
Porra de sociedade insensível do caralho
Insensível com suas pseudo-músicas de sucesso
Insensível com seus pseudo-orgasmos e suas pseudo-mentiras disfarçadas de pseudo-verdades
Insensível por sua pseudo-fidelidade
Insensível pela real ganância inescrupulosa provocadora de pseudos e insaciáveis buracos negros.
Insensível.
Porra de sociedade covarde do caralho
E seus preconceitos.
Porra de sociedade.
Porra de sociedade egoísta do caralho.
Egoísta por seu pseudo-voto
Egoísta com sua pseudo-propriedade
Egoísta com seu pseudo-conhecimento-pós-doutorado
Egoísta com sua constante retórica
Egoísta com seu pseudo-ouvido
De si para o outro, oferecer somente pseudos-sentidos.
Egoísta.
Sociedade de pseudo-gramática
Sociedade que me pariu,
Puta que pariu,
Paremos, descemos do mundo e que, portanto, pariremo-nos de volta.
Embora sociedade histérica, não somos ainda, no limite da corda bamba, uma sociedade estéril.
?
Porra de sociedade estéril do caralho
Porra de pseudo-sociedade...
sexta-feira, julho 27, 2012
O Corpo da Curva
O que é uma curva?
O caminho mais longo entre dois pontos; ou seria a mais curta poesia do destino?
A curva é bela. Sinuoso instante, lascivo declive curva de serra
Encerra a história ou reinicia a breve passagem dos seres na terra?
Porque nem a linha do trem é reta
Nem a seta, nem a meta, nem o papo, nem o som
Tem curva na onda
É curva a vibração
O que não pode é seguir direto nela, sem escorregar por seus envolvimentos tortos
A lança reta desvela a fúria dos rodeios
E a íris confunde-se com as cores dos arcos.
Um volteio manso pode ser desvio mortal.
Não há o que esperar da curva
De bala reta, resvala, se for a curva animal.
terça-feira, julho 03, 2012
Rapidinha com Marília Gabi Gabriela da minha imaginação
Talvez as vozes...
Quem te criou?
Talvez as vozes...
Quem te matou?
Talvez as vozes...
As vozes de quem?
Talvez as de Deus...
As vozes de amém?
Talvez as do Estado...
As vozes da lei?
Talvez as da sociedade...
Quem dormiu com você?
Talvez as ditas preocupações para com a moral, o trabalho e a boa vizinhança.
O que se passa na sua cabeça?
O gozo
E na minha Clareza as idéias.
O que se passa?
Vidraça
O que se reza?
A ladainha e o berro do gado
O que se preza?
As vidas possíveis...
O que acomoda?
Nada. O peixe nada por não estar acomodado.
O que embola?
Baque virado.
Salta?
Açúcar!
Canta?
Arranco
Representa?
Crio.
Tormenta?
No cio!
Rebate?
Quem te pariu?
Talvez as vozes...
Eu que pergunto agora...
O que te desenvolve?
quarta-feira, junho 13, 2012
Corpo Na Moral
Não é que agiste mesmo
Na moral...
Igual, se essa quebrada se concerta
Deixa de ser errada e segue a seta.
Correto?
Mas e aí,
Quem diz qual o rumo que temos que seguir por certo?
Certo pra quem, seta de quem,
Hein?
Então,
Não é que agiste mesmo
Na moral e nem se deu conta...
Porque sou eu que presto contas
Eu, você, você e você.
terça-feira, maio 29, 2012
Coração é do corpo
Coração
Coração não é símbolo de amor
O coração não é símbolo
Coração é órgão, é pulso
É carne.
Coração rompido
Coração rompido não é símbolo de desamor
O coração não é símbolo
É infarto, disritmia,
Tecido adiposo, traído pelas gorduras do prazer, moral e anemia.
Arranco meu coração rock and roll
Entrego pro mundo dançar
E pisoteiam
Pisoteiam
Arranco meu coração Roberto Carlos
Entrego para o mundo amar
E chicoteiam
Chicoteiam
Lúpus silencioso
Parada cardíaca em câmera lenta
Gosto de sangue na boca
Gosma grossa correndo na veia.
Sangue de barata, raiva que não passa
E todo o resto
Todo o resto
É lama sutra, cama surda, decoro e modos.
Coração
Coração
Coração não é símbolo de amor
Coração não é símbolo
É corpo vil
Vital mecânica, funcional, objetivo mecanismo.
Coração
Coração partido não é símbolo de desamor
Coração partido não é símbolo
Partido é aquilo que foi embora.
Embora o que parta seja sinônimo de rompido.
Arranco meu coração bossa nova
Playboy carioca
E canto as belezas de Ipanema
Mas só da gangrena
Só da gangrena
Arranco meu coração em versos repentes
Solo meu sol nordestino
E o tiro é repentino
É repentino
Coração
Coração
Coração não é símbolo de amor
Coração não é símbolo.
É fio. O mundo hoje está por um triz
E no coração de todos as marcas da cicatriz.
segunda-feira, maio 14, 2012
Corpo para cima
quarta-feira, maio 09, 2012
Corpo Frase
Tempo toca mesmo tudo ao
Mesmo tempo ao tudo toca
Tudo toco mesmo ao tempo
Mesmo tudo toca ao tempo
Todo tempo toca ao mesmo
Toque de todo tempo do mundo.
domingo, abril 29, 2012
Sinceros Votos
Meus sinceros votos de alegria
Às tristezas presentes na vida
São dados com a ira da ironia
Solta aos ventos da Cidade Prometida
Ao caos impera o "no time"
Solidão impera no tempo
O discurso de uma só voz
Cadê os meus companheiros?!
Eu grito e a morte espero
Voltar-me a quem não espero
Com uma só voz, manifesto
Andar por aí, tão disperso
A emoção me rasga o peito
O sangue que jorra vermelho
Em vão cantei por perdão:
Condenado por perversão, seu cuzão
As cinzas, o caos
Os incêndios, normal
O olho que vê e não enxerga
Aceita as fatalidades
Por Deus eu imploro
Tio Sam, permissão
Pra rezar pelas almas penadas
Das crianças já condenadas
A dor da ilusão,
O futuro da nação
Aspirar o vazio, o nada
Rebelar-se de mãos atadas
Eu grito e a morte espero
Voltar-me a quem não espero
Com uma só voz, manifesto
Andar por aí, tão disperso
Olho pra você
Zumbi da TV
No zap! A obsessão
Controle remoto da sua razão
Caminhe, faça, morra, coma,
Transe, cague e ande
Não, não vou chorar
Hipocrisia de pensamento
Eu grito e a morte espero
Voltar-me a quem não espero
Com uma só voz, manifesto
Andar por aí, tão disperso
Piso na Cidade Prometida
Megalópole terceiro mundista,
O blues, a lamentação,
O caos, a população
"Superiores" estou aqui,
Não, não quero partir
A minha voz solitária
Vai cortar-vos feito navalha
Eu grito e a morte espero
Voltar-me a quem não espero
Com uma só voz, manifesto
Andar por aí, tão disperso
Leandro Hoehne - 2002
terça-feira, abril 24, 2012
Eu não to ficando louco
-Podemos ser mais, logo,
Na maré que não é nossa,
Nosso barco só pode navegar fora.
O leme quer a contramão
Irmão
-Porque a minha infância foi no morro do CDM e minha juventude o não chorar de um pai morto
-Teme?
Treme... treme memo porque cada ruína é a sua própria história
-E a amizade não consegue saber o que quer porque é refém da própria introjeção da condição que quiseram pra ela.
-Os outros quiseram e querem sempre por você entende?
-Supera isso aí fiii
A gente não pode ter medo do dinheiro, ele é que tem que respeitar a gente.
-Podes crê amizade, podes crê.
-A roda não vai parar,
O bonde tá no trilho
E nossa sintonia se perdendo no ar.
Cê não vê que pode ser diferente?
Chega uma hora que a gente já aceita a miséria como nossa
A violência como nossa
A falta de dignidade como nossa
E a de liberdade também.
Ficar berrando aí, parado, berrando calado na tua vibe própria?
Ficar na fossa?
-Mina, a vida é nossa. Não interessa que você me traiu.
Amizade, a vida é bossa de ritmo falado. Não interessa que você me feriu.
Patrão, a vida é minha e temos o nosso trato. Não interessa o filé mignon no seu prato.
-Não?
-Meu rumo não ta feito. Nenhum bandeirante abriu minha trilha e se precisar subir, não vou de elevador.
-Cada cagada tem seu cheiro,
Cada apreço o seu preço,
Cada destino sua margem de erro
E cada erro tem seu troco.
-Aguarde. Eu não to ficando louco.
sexta-feira, abril 20, 2012
sexta-feira, abril 13, 2012
iPhone de Pandora - o poema
iPhone de Pandora
Pandora's mobile apps
Notes, remotes, facebook, iCloud
What's up
in New York?
E na Vila Nova Iorque
Tudo na mesma.
Everything is possible
on Pandora's iPhone...
Guarda infinitas surpresas.
Surprise!
E lá se vai
Também
The connection between our eyes?
Tantas besteiras poderiam ser evitadas
Enviadas
Via os bluetooths de nossa confiança, não é mesmo?
Mas os segredos, guardados na caixinha eletrônica, são como heras venenosas no prato que comeu.
Hoje é dia de selva bebê
E na selva eu te amo
E te respeito
Sou leão de juba raspada,
Nesse coliseum sou guerreiro.
E da caixinha de pandora tecnológica
Não tenho medo
Não tenho medo
iPhone de Pandora
Modern eletronic simulacrum of greek mythology.
iPhoda.
quarta-feira, abril 11, 2012
terça-feira, abril 10, 2012
Cada qual, cada um
Cada qual com sua reza
Cada um com sua pressa
Cada voz, seu palavrão
Cada limbo com sua escuridão
Cada mano com sua mina
Cada dor com sua penicilina
Cada amor com seu varal
Cada morada com o seu quintal
Cada mês com seu salário... Talvez
Cada escolha com sua altivez
Cada parcela, suas Casas Bahia
Cada baiana com sua mátria minha
Cada pai com sua morte
E cada arma com seu porte
Cada vida com seu norte
Cada tropeço com o seu capote
Cada rua, sua encruzilhada
Cada Oxossi, sua caçada
Cada filho sua pernada
Cada rumo sua calçada
Cada contexto, uma situação
Cada pretexto, algo malicioso
Cada lábia tem seu sexo
Cada homem tem o seu complexo
Cada perna tem sua sedução
Cada hormônio, lugar no tesão
Se for de corpo, cada alma conflito
Se for de cristo, pecado tá dito
Cada mulher, uma beleza própria
Cada razão com sua razão própria
Cada casal com sua fidelidade
Cada moral com sua idoneidade
Cada vontade, o mel da sua boca
A cada mel, uma vontade louca
Na poesia mais uma solidão
Em cada noite um gole de ilusão
Pra cada amor, uma dose a mais
Cada fulgor, abandonado ao cais
Mas a verdade é que a realidade volta
E por dinheiro, a luta é sem escolta
Cada playboy tem o seu nice boot
Cada perfil tem o seu facebook
Cada criança tem seu choro de fome
Seja feijão, ou do que não consome
Cada peão tem o seu trabalho
Cada patrão, à casa do caralho
Eu só não sei se cada qual tem vez
Em ser na vida o ser humano do mês
O ser humano do mês
O ser humano do mês
O ser humano do mês
--
Cada Grécia com sua Tróia
Cada favela tem a nossa nóia.
quinta-feira, abril 05, 2012
Corpomano
É bonito dizer que veio de baixo
É bonito
É bonito
É bonito quando o discurso é operário
É bonito
É bonito
É bonito circular pela periferia
É bonito
É bonito
Bancar de mano e falar na gíria
Se liga
Se liga
Que tem gente querendo saltar no bonde da quebrada nossa
Embassa
Amassa
A massa
A
Massa
Inda vai comprar com a grana o lugar da janelinha
Alinha
A linha
Cerol e rabiola
Bola, embola, embolada
Que nada
Que nada
Roubada
Roubam nosso ouro
E escondem na toca
Se toca
Se toca
No túnel da moral que vem do capital
Assoite
A noite
Fumam nosso verbo
Cheiram nosso senso
Astral
Neural
Brutal
Brisam em nossa cara e gozam no nosso quintal.
Eu tinha que falar
Foi mal
Vendem-se ao político da situação
Resolvem com o Diabo como ficar bem na fita,
Porque em seus caminhos faltam atitudes
Em nossa encruzilhada exu abre caminho e manda bem na rima.
Então passa pra lá e vê se toma jeito
Que é feio
É feio
É feio
Mamãe não te ensinou a ter vida própria
Se importa?
Se importa
De assistir de fora e esperar o apito?
Porque aqui só joga bola quem circula nas vielas convicto.
terça-feira, abril 03, 2012
Corpo Também
Gosto do também
Abre mais que uma possibilidade
Revela a verdade de que nada pertence exclusivamente a nada
De que ninguém é de ninguém e de que qualquer coisa pode ser daquilo que se tem ou não se tem
Também
Há o que há e o que não há
Tambéns ancestrais, astrológicos, astronômicos, míticos, científicos, analíticos, estatísticos, políticos, módicos, lógicos, agnósticos.
O também desmistifica a ciência,
Serve às poesias do mistério
Reage às estratificações do sentido
Perverte a simbologia, inverte o exclusivismo.
Também, não poderia ser diferente, num universo tão cheio de possibilidades
Qualquer desconsideração de que o correto também pode estar errado
De que o aberto também pode estar cerrado
O concreto, abstrato,
O contemporâneo, ultrapassado
De que morto também vive em outro estado,
Serve ao simples fato de que tudo é múltiplo e sempre poderá ser multiplicado.
O também me tira da zona de conforto
Me lança no abismo da incerteza
Me revela ambientes incomuns, paisagens amorfas.
Fortalece o contexto porque dá poder ao depende.
Assim nada será só branco ou só preto,
Só pulga ou percevejo
Depende
Só soldado ou cangaceiro
Viajante ou hospedeiro.
Depende
Também depende de onde me posiciono
Por qual fechadura espia meu olho
Qual envergadura do meu campo de visão proponho,
A qual distância experimento meu olhar.
E, para além da vista,
Enfim,
Ou seja
Também depende,
Assim,
Se estou afim
De encarar a metafísica.
sábado, março 31, 2012
TNT
Ninguém aqui é pedra
Certo?
Então mexa-se.
Ninguém aqui é ponto de buzão
Certo?
Então mova-se.
Ninguém aqui é poste
Certo?
Então desloque-se.
Agora
Se um branquinho como eu ficar aqui te dando ordem,
Evoque Zumbi
Martin Lutter King
Pule os muros de Berlim
Risque o fósforo da desordem e
Quem sabe
Seja o caso de replantar sua raiz e resistir, resistir, resistir, resistir
Resistir, resistir, resistir, resistir...
E explodir, explodir, explodir, explodir
Explodir, explodir, explodir, explodir
Com tudo isso que tá aí
Poste, ponto, muro, encosto...
Arme-se de um aposto,
Sujeito, objeto, período composto, predicados verbais,
Metáforas
Mas nada de pleonasmo ou eufemismo.
Monte kits com refrões de rebeldia.
Arme o trinitrotolueno e exploda em poesia, poesia, poesia, poesia...
domingo, março 25, 2012
Corpo Paisagem
Vista daqui,
Belas sombras
Belas luzes
Avista belo monte de curvas sem veias centelhas vermelhas aos meios seios as costas a mostra
Pavíos partidos oferecem menos fogo.
E um Domingo assim, morno...? Cabe à reza dominical descarregar o cansaço da semana e já sofrer com as batalhas que virão.
Dessas paragens quero criar vida boa
Vida que é mais vida
Vida que é mais a toa
Toada de um fôlego só!
Parar de ver prazer só quando existir miragem
Então
Deixe-me olhar mais um pouco a paisagem...
terça-feira, março 20, 2012
Fulano Corpo
Fulano refletia no horizonte o pôr do sol,
Nos olhos um mel de saudade
Saudade doce e caldalosa
Que só depura em momentos bons.
Fulano sentia no horizonte um cobre brilhante.
No peito um vício de sol,
Sol que não se sabe se é de fora ou se é de dentro,
Solo de guitarra ou rebento.
Fulano sentia no horizonte uma brisa febril.
No sexo o própolis da abelha rainha,
Fel cicatrizante, curativo sumo, eficaz
Reverso veneno.
Fulano sentia a cabeça pesar
Pender para baixo, sobre as pestanas sombrias de um olhar esquecido, longe.
O horizonte não parece ser mais horizonte
A beleza do infinito, agora púrpura cor, caía abaixo da noite de seus joelhos,
Finas canelas e frágeis tornozelos...
Do corpo
Todo...
Corpo, todo
Fulano corpo,
só não sentia os pés,
Que flutuavam na vasta e intensa
Solidão.
sexta-feira, março 16, 2012
Samba Quadrado
Ando meio mal dos humores
Insatisfeito com os rumores
Descrente dos senhores
E senhoras que me vêem.
Se minha vida fosse mais de boemia
De esculachos, meias lidas,
Meios fios e meias medidas
De uma dose a mais de amor...
Se da metade não entende nem um terço
Podes crer que eu não mereço
O julgamento que me tens.
E na favela o sol nasce atrasado
Nego já tá no trabalho antes do galo cantar
Quem dera eu ter ficado com a morena
Nua, tem pele serena e suspira quando chego.
Alço vôo, sigo em dia, e sem consolo,
Ao patrão mais um esfolo, um pedaço do meu couro, sem acrescer nem um vintém.
Como um canto sem seu coro,
Uma sina sem penar,
Como um santo em oratório sem uma reza a iluminar,
Segue a vida com dois pesos, dois salários e respeitos,
Há mais deveres que direitos
Mais discurso que viver.
Porque é que a vida, delicada como donzela,
Prefere outra aquarela, outra sequência de cores?
Mesmo se cinza, prata, chumbo, é a cor dela
Fica desejando aquela que é mais a cara aos amores.
E colorida menos fica a sequência,
Marcada a cumprir sentença
Por causa de um mal entendido qualquer.
Quem foi que disse que o sofrimento é que é a regra
Pro peão que, aflito, espera
O pagamento do mês?
E o sol desce muito antes do horário,
Nego nem voltou do trabalho
Tanto mais viu a mulher.
Se há partida, tem de haver a despedida,
No boteco ao fim do dia
Samba um choro quadrado.
Quando às cartas vira a mesa
Aposta tudo o sonhador
Se o jogo é com a vida
O destino é o ganhador.
Ando meio mal dos humores
Insatisfeito com os rumores
Descrente dos senhores
E senhoras que me vêem.
Se minha vida fosse mais de boemia,
De esculacho, meias lidas,
Meios fios e meias medidas
De uma dose a mais de amor...
Se da metade não entende nem um terço
Podes crer que eu não mereço
O julgamento que me quer.
domingo, março 11, 2012
Sono em Clara em Neve
Se bato o sono em clara em neve
A cara fica fofa,
Pesa a pestana e o olhar não estabiliza o giro.
Então
Me dou conta que pro sonho só vai gema e
A clara, que pena,
Só gera suspiro.
sexta-feira, março 09, 2012
Magrela
Saí eu e a magrela
Somente eu e ela
Lá no céu a lua cheia
Aqui no chão volta e meia
Pedalo
Na favela, pagode na viela.
Alguns com baseado outros Inconformados guardando suas preces em garagens de amém
Tem também a gostosinha dos mano,
As piriguete rebolando, ô se tem.
Vai e vem
Sobe morro, desce morro
Não sei se morro
Puxo o fôlego
Vem cigarro, vem esgoto, vem cheiro de jasmim do perfume da...
Sei lá, deve se chamar Iasmin.
Subo mais um morro, desço mais um morro.
Já contei onze só até a Praça Onze,
Não sei se pedalo ou se corro.
Calma mano, que isso aqui não é coito.
Respiro a valsa da quebrada... Me sinto completamente em casa.
A lua lá no céu
A luta cá na terra
Jorge me olha curioso e não dou a mínima pro dragão.
Até porque eu sou timão...
A lua hoje é bela, tranquilo sigo pedalando na favela
Vou em frente
Porque sei
Sei que tem também
Por aqui
Gente de bem.
Corpo Móvel
A mobilidade se mede no direito de ir e vir. As idéias vem e vão. Os prazeres também são passageiros, muitas vezes mais do que queremos. Andar por aí fotografando pelas retinas do celular, quase que formado por células humanas. Quase tão inteligente, também quase tão carente. A mobilidade, que tanto tem a ver com liberdade e que por sua vez tanto tem a ver com vida, é hoje fabricada e aprimorada em aplicativos, pads, pods, tablets, smarts, pode? Posso seguir adiante? Esse transitar enquanto estou empacado no trânsito e o comunicar mudo enquanto penso lendo-me em voz alta no pensamento sem saber o que realmente pensa o outro a alguns impulsos elétricos de distância, são mais das belezas paradoxais contemporâneas. Aquele meu nomadismo cigano permanece, porém esta condenado a ser traduzido nas letras deste alfabeto virtual. Um movimento sem movimento, um adiante aqui plantado num banco do metrô. Onde chega esse meu móvel pensamento? De qualquer maneira, são só pensamentos... Permitidos de serem publicados enquanto pago a operadora de celular, ao mesmo tempo em que duram enquanto há bateria de lítio. Defenderei a mobilidade até o fim, mas preciso entender que não depende de mim o tanto que para além do celular quão móvel o resto do mundo deseja a vida.