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sexta-feira, outubro 26, 2007

Corpo Carteiro

Il Postino me trouxe uma carta
Pode ser de agradecimento
Pode ser de saudades.
Ser de mulher, pode
Pode ser de amizade
Por dias de sóis em postais
Ou de retratos de chuva.
Sozinho ou acompanhado
Os dois, pode.
Pode ser algum dinheiro, carta
Inteira ou pela metade
Suja de lágrima ou suja de beijo
Em batom bem vermelho
Pode
Telegrama ou um texto inteiro
Em francês ou italiano
Peut!
Uma carta me mandaram, resgatada de uma garrafa
Navegante no Atlântico
Dizem vir do poeta.
Neruda me acuda.
Pode ser de amor
De ódio também pode
Pode vir com cheiro, maresia, ou ser de má caligrafia
Mas se for história minha
Entendo.
Pode.
Pode ser de fé, pode vir, até, e voltar pra de onde veio
Quem sabe já não mudei de endereço?
Il postino
Me deixa na espera de receber a resposta que nunca recebo
Agora queria estar no mediterrâneo e enviar uma carta pra mim mesmo.
Quanto tempo demoraria pra chegar ao vento?
Um sopro ou um vácuo...
Ora, vejo que chegou.
Pode ser de perto
Pode ser de longe
Pode ser de agora
Pode ser de antes
Pode ser, somente
Sendo
Um eterno gerúndio da vida
Pode ser boas-vindas
Pode ser de despedida
Não sei,
Não abri ainda.

quinta-feira, outubro 25, 2007

Hoje sonhei que morria
Pra falar da vida.
Hoje conversei da vida com quem morreu,
Apareceu em sonho
Me deu um arrepio
Parecia que ele era eu.

Hoje acordei e me senti meio leso
Deslocado no tempo das coisas
Discordante das minhas escolhas
Repensando tudo.

Hoje me parecia um ontem continuado
Nas horas largas de um segundo alongado...
Tempos,
Cheio de tempos o meu dia.

E uma saudade de tudo que me leva
E uma raiva de tudo que me leva
E uma ansiedade calma
Por tudo que me leva

E atropela.

Quem sou eu nisso tudo?
Vagabundo
Pelo vagar...
Vagaroso.
Vago a luz
Piscando a bunda por aí.

Agora tenho medo de dormir
E evocar meus sonhos
Cair em mais penhascos e encontrar meu pai.
Ai
Mais medo tenho se, arregalados,
Meus olhos sem sono
Encontrarem-no acordados
E num arrepio falo "oi"
Sem saber se foi ele mesmo que apareceu ou
Se dele
O que tiro é a somente imagem d'eu.
Se parar de escrever
Passo pro outro lado.
Morro de tédio
E faço do inferno
A casa da palavra.

sábado, outubro 20, 2007

Corpo de Histórias

Queria contar a história de um menino. Era uma vez. Várias vezes. A ultima vez que se tinha esperanças demais. A idade dele era como se fosse a jovialidade de mil anos. Era um jovem velho, sábio fresco, de brilho nos olhos. Entendia da vida como a intuição sugeria e ele acreditava. Tinha o corpo aberto e conversava com todos os orixás, todos os santos, demônios, anjos, monstros mitológicos, extraterrenos e infantis. Sabia de histórias. Só não gostava de contá-las, se confundia, muitas imagens, muitas sequências de acontecimentos - era chato. Chato. Por isso ficava quieto imaginando a própria. Tinha esperanças. Imaginava a vida colorida e, além da imaginação do que acontecia, chegava ao ponto de prever a lembrança do dia seguinte - tinha esperança até ao criar o passado no futuro. Estava sempre a espera do grande acontecimento. Por vezes se pegava na frente de batalha entre o Reino Próximo e o Reino Distante e queria a esperança dalí a criação do Reino Médio, num papo regado a suco de laranja. Outras mais, se metia a falar pro padre as proezas do pai de santo e pro pai de santo as proezas do pajé e acabava por religar na terra o que eles tanto queriam do céu. Também, ao ver que o mundo girava, pediu numa conversa mansa, que girasse um diazinho só mais devagar, com a promessa de trocar uma palavra com o Sr Tempo Tempo Tempo Tempo que aproveitasse suas horas vagas pra conhecer outros universos e ver que podia ser menos rude com a Terra. Estava sempre a espera do grande acontecimento. Por isso tinha mil celulares nos bolsos grandes de palhaço e seu cérebro era conectado à internet, com capacidade de acesso ao seus milhares de e-mails pessoais a todo minuto. Um dia a notícia chegaria de Tudo Irá Mudar. Não viria pelo céu e nem pelo mar. Viria das telecomunicações, via satélite, mandado de algum canto da esfera interestelar, cuspido pra fora de algum buraco negro, anunciando o alinhamento das dimensões, onde perto e distante poderiam se encontrar. Será que está lá? Tinha esperanças que sim... (continua...)

terça-feira, outubro 16, 2007

Corpo da Volta

Como não resolvo a sola do que me angustía, risco o disco e repito minhas palavras julinas, em alto e bom som, mas pequeno o suficiente pra não sair de mim. Leia em silêncio. Repito: leia em silêncio.

"Deixem o silêncio dos gestos se colocarem perenes. São as peles, e não as cabeças, quem realmente se entendem."

Ah... entender do tato... conversa de luxo.
Luxúria, é o pecado que falta
Permanecer correto.

sábado, outubro 13, 2007

Corpo de Tio

Troco qualquer espetáculo, de qualquer país, seja qual for o dia, seja qual for a hora, seja qual for a importância, pra ver e ouvir

óia titio a "íafa"! É linda... linda titio... linda.

Palavras vindas de quem olha com olhos sábios de criança que descobre algo do mundo. A emoção do novo, do que se torna presente em tamanho real, cheiro, cor e som que não há em livros e em enfeites da sala. Não podia não estar lá pra ver. Não podia não estar lá pra... estar, simplesmente.

Meu corpo de tio dispensa grandes produções.
Fui ao zoológico com Sofia...

quarta-feira, outubro 10, 2007

Pra afastar apatia.
Chegam de banda em banda,
A avenida assistia,
Toda frente felicidade
E o cortejo que encanta
A chegada do artista

A saída era a praça e o caminho era a rua
Caminhava fanfarra
Cornetas e trambones
Malabarista de facas
Contorcionistas de massas
Sem ossos
É a tristeza que passa
É o pique que fica

Mambembeando
Anda
Apressa
Que o espetáculo começa
Essa
História
Tó, ria
E se entrega
Se entrega e...
Me empresta sua alegria.

terça-feira, outubro 09, 2007

Quando eu era moleque saía da escola direto pra bola. Jogava na rua porque o campo era pra marmanjo. Subia no morro e dava na favela, amigos do Verônia, maconheiros de fazer da vida flanela sem muita importância. Nunca fui um deles, por opção, mesmo indo pra PUC, muito mais tarde, e ter amigos maconheiros de vida boa com dinheiro. Ainda assim, vida de flanela. De um lado a imagem de miséria e do outro a intelectual descolada não sou careta, uso drogas. Eu sou eu, não uso, mas também não sou careta... sou palhaço, minha viagem é outra. E meu corpo gingando do sub ao up, do mundo ao mundo, diferente, diferente. Com dez, namorava na praça e aos quatorze já gostava de pornografia. Conheci aos dezessete uma pequena linda e me apaixonei. Até hoje. Até hoje, acredita? Hoje, vinte e três, quase. Saio do trampo e vou pro trampo, outro. Em casa, trampo. Até dormir e sair novo pro trampo, do, pro, denovo pra, pro, do, pro, trampo. Ser adulto estraga. E meu corpo gingando na memória do tempo em que o tempo exitia. Hoje ainda gosto disso tudo - bola, escola, rua, morro, favela, praça, pornografia - a diferença é que o contínuo tempo, tempo, tempo, tempo, não permite o degustar das memórias, da... criançada. Ser adulto estraga. Ser adulto é ter agenda e hora marcada. Economizo uma grana pra ver se um dia caso, viajo e compro uma bicicleta, pra descer alguma ladeira com vento forte na cara e sentir na pele bater o tempo da vida.
O que me encanta
É ver a dança
De anônimos

...

Um
Do
Trê