Pesquisar este blog

domingo, setembro 24, 2006

Na contramão das coisas ficam voando os desgarrados de fé: acredito logo insisto.
Só não rezo ajoelhado, vou andando orando a pé. Quem quiser-me que-me acompanhe, porque não; pare se não me acompanha; não sou não; esperar só se for a hora do corte, da poda, da roda, do descanço; mas ainda assim baixo num e mando ver. Na gira ainda corre meu organismo. Na vida quero ficar; eterno eternizar as coisas pra quê vivo: a arte, a sorte e o amor. O resto vem na rasteira - levo nas costas, burro de carga que de burro não tem nada.

terça-feira, setembro 19, 2006

Correção de antemão atrasada:

A sova era de fio - de ferro - de cobre. A bunda devia arder mais que a chapa que passava a roupa.

Memória de irmã que atira certeira... correção feita;
Mais poético... família moderna. Vara, mesmo, vem de outros tempos, tempo de cutucar onça com birra curta. Quando ainda tinha onça. Se já tinha o fio do ferro, pouco em pouquinho sumiu o lago, o mato, a várzea... os fios ficaram... e vão sumindo pra dar lugar ao infra-vermelho, à fibra-óptica...

Os lagos devem estar em algum lugar, a gente que não descobriu ainda.

segunda-feira, setembro 18, 2006

Periferia Nordeste Paulistano - Ou o Corpo Retirante

Ali. Olhe na lista telefônica ou procure num maplink. Divisa com Guarulhos, pela Trabalhadores-Ayrton Sena, com um parque sujo, porém chamado Ecológico, cheio de Quatis e Macacos sacanas. Passa ali a linha do trem Calmon Viana, a famosa podreira sobre trilhos que vaga de extra-São Paulo a centro abandonado reduto de bolivianos costureiros e camelôs. A Estação Roosevelt, antiga e grande útero concebedor de nordestinos do Brasil e ruralistas da europa, interliga o Brás, do metrô; liga a classe-longe a classe-média, gratuitamente, com catraca liberada - que beleza! - faz a ponte ferroviária entre periferia nordeste paulistana e centro, espalhando às veredas corpos retirantes diários que abandonam em viagens suas casas e logo, mais a noite, retornam aos lares fazendo jornada de retorno ao seu meio-ambiente. Começa na Penha, mas ninguém assume direito. Ali ainda é meio centro, bairro histórico distante, mas com um falo gigante chamado Celso Garcia: caminho de comerciantes da São Paulo de chapéu, hoje abandonada pelo efeito Febem, no Tatuapé (centro-leste), bairro nobre do outro lado do trem e zona de guerra com moleques rebelados no telhado do orfanato, aquelas crianças sem pai e sem mãe fazem da antiga via um corredor de ônibus e reduto de putas entre Carrão e Brás. Nossa Senhora da Penha parece que olha pro outro lado. O sino bate pra Radial Leste, o padre no altar fica de costas pro nordeste onde começa mesmo, de maneira assumida, na ladeira de Cangaíba. Morro alto com vista linda, o Parque Ecologico, bem lá em baixo, fica lindo. O lago nem é imundo, é pintado de dourado, com o pôr do sol do outro lado da cidade, assistido em bairro nobre entre Vila Madelena e Pinheiros, na Praça do Pôr do Sol. Carro largado por desmanche é a cada esquina. O Correio-São Miguel Pta/ 1178, passa voando, faz da curva do "S" montanha russa da melhor qualidade. Nem se importam os passageiros: os sentados dormem, os de pé já estão acostumados. Até desenvolveram musculatura específica para curvas da Avenida Cangaíba. Ali há de um baixo-lado o Tiquatira e do outro a linha do trem, seguida pela Avenida Assis Ribeiro, antiga várzea, formadora de lagoas de atrair garça e moleque pra banhar em dia de sol; depois levar varetada na bunda e ficar de castigo, nadar era proibido, mãe não deixa. Era riscar a unha na perna, se ficasse marca de barro seco entrava na sova e não ia jogar bola. A várzea assentou. Passa carro agora. E trem também. Tem campo de treinamento do Corinthians e do Palmeiras, um do lado do outro. Faculdade publica e siderúrgica multinacional. Favela e favela, muita favela, fora do morro, no baixo, escondida. É o tal do Keralux, habitat dos antigos ribeirinhos, abandonados pelo Estado. Aquilo é terra de ninguém. Governo do Estado, prefeitura, Deus? Até hoje ninguém se pronunciou. A esquerda do Queroa lux! tem o São Francisco, quem conhece entra, quem não conhece, fica de preconceito. À direita segue até Ermelino, encontrando os Matarazzo e seu legado falido, terminando num grande Pantanal, de Ermelino Matarazzo, Guaianazes e São Miguel Paulista, terra de Ninguém Ninguém, mas que muitos Alguém resolveram por morar lá: - Mãe, eles moram em casa de madeira, e pisam na graminha. Quero morar lá também! - Filho, lé é a favela, olha o esgoto! Nesse caminho, passou Caixa D'água, Vila Cisper e Jd Danfer. Praça Onze e o futebol moleque dos Onze Meninos, sempre competindo em final de Primeiro de Maio com Jardim Verônia, vem na beirada. Parque Buturussu e Vila Paranaguá. A vila dos operários fica na Avenida Paranaguá, seguida pela praça sem nome, conhecida por Jd Matarazzo, por começar de frente pra fábrica e terminar no Largo Primeiro de Maio - terra de trabalho; avante São Paulo! Meu avô veio de Pirituba pra cá - corinthiano roxo. Paranguá, em Tupi Guarani, curiosamente quer dizer enseada, caminho para o mar. Sem saber disso ficava em casa, quando criança, esperando onda em pensamento, no final da avenida e começo dos meus sonhos. Achava que um dia alí no semáforo ia ter praia pra brincar. Nessa época pegava ônibus e ia estudar em São Miguel Paulista, seguia na Av. São Miguel, caminho de Dom Pedro pro Rio de Janeiro, passando por Itaquá, Atibaia e Santa Isabel. Avenida Imperador ou ainda Estrada Mogi das Cruzes, tão longe, mas tão perto, deixam no Arthur Alvim quem quer ir de metrô pro centro. Perto tem o só aterrado centro de treinamento do Corinthians, que, por isso, batizou por Corinthians Itaquera a mais lestiana estação, levando ao Palestra Itália quem corra a linha toda, descendo na Palmeiras-Barra Funda, pros verde-e-brancos chorões por quererem nome de estação - tão opostas futebolísticasocialmente falando. Cidade Tiradentes já é extremo-leste, nem é mais tanto essa periferia nordeste, onde o sol nasce primeiro sempre. Todo mundo acorda pra ver o trem correr, do lado de fora da porta, olhando pro chão e levando vento-frio-que-o-sol-ainda-não-esquentou. Esse corpo retirante que vai e reretira de volta de onde partiu, pra depois seguir novamente onde chegou, errante entre rios - Tietêquatiraricanduva - na saída da ponte do Imigrante Nordestino, a ultima (ou primeira) da marginal do Tietê de Margens Cinzas, ou na catraca da Roosevelt pro metrô do Quércia. Seguir pra qualquer outro destino seja pra metrô do Covas ou do Alckmin, pro minhocão do Maluf, ou túneis da Marta - há de dizer que a sexóloga parece entender de túnel. Esse rumo de retirante nordestino sigo toda santa hora em todo Dia de Maria. Com o corpo de quem não se acostuma direito à rotina, mas segue indo, em andamento, no pulso da cidade, no pico da psicologia frenética de metrópole que um dia te tem, um dia sempre. Te pega.

sexta-feira, setembro 01, 2006

Chove mesmo chove. Lava essa cidade em fluidas águas, molhadas de suor do trabalho. Paulistano arde, paulistanos da Bahia, de Sergipe, Paraíba, todos cabem nesse Brasil metrópole, brasil de economia. É só olhar o quê desce o morro. Barro, lixo, na enxurrada vem gente rústica, vem nessa acústica onda de certezas, de certas pobrezas com cara limpa, lindo aspecto e glórias incabidas. O recheio é oco e oco também é a barriga e a cabeça e a cabeça e a barriga, vento e saudade. Saúde? Nem tento, nem arrisco, se é saúde atestado médico e viver assim a sono e hora todo Dia de Maria. Brincadeira de escola é o qu'eu queria. A agonia é sem volta. Casa e romaria na favela, o cruza-cruza é todo beirando a rodovia. Métodos de vida. Ninguém escuta não, vive-se apenas. Nem se aprende, nem se ensina. Só recebe nas solas o fio da roca que nervosamente se fia. O ônibus vai gastando óleo diesel e estou certo de que essa é a minha anatomia, esse é o meu corpo, é o corpo que arrependia. Mas na volta não tem volta, a estrada é sempre outra a cada vez que se olha para trás. Os caminhos são tantos que das escolhas não fazemos conta, escolhemos e seguimos sempre, sem nem se ver nelas desenhado, nem em previsão de cores e formas. Quando me olho já me vejo vestido com roupa feita medida, cabível no corpo, grudada que não sai nem a ferro e fogo, tesoura e navalha. Feito roupa molhada de chuva lavada em cola sem saída. Ando e me grudo, me prendo sem nem ver, em esquinas, casas, praças, igrejas, prédios, ruas, viadutos, avenidas, lojas, árvores, postes, cães, gatos, trens, calçadas, rios, poluídas fachadas, pontos de ônibus, guardirreios, nem freia, nem pára, carrega a cidade inteira intalada na garganta, amarrada nas costas. Não importa pro lado que vire, pro rumo que siga ela vive ali sobre, fazendo careta por detras, zombando postera, querendo ir na contramão. Não me deixo assim por defeito com corcunda de chaminés e carros, soltando gases e sirenes a torto e a direita. Sigo indo carregando e indo enquanto sirvo de matéria prima pra metrópole, sou combustível rico em carbono, duradouro até a aposentadoria em cinzas fáceis de voar por esses ares carregados de maio-branco-meio-preto, sou carvão pra esse brasil de economia, vermelho de fé, de tanto andar a pé e de raiva.