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terça-feira, maio 09, 2006

Boa vida e boa sorte

As vezes tenho vontade de desistir. De tudo. De todos. Sumir pra nunca mais. Mas é mais forte do que matar-se, isso é pros fracos. Sumir é desintegra-se, não ser mais nada, não estar mais em lugar nenhum, nem na memórias das pessoas. Como uma partícula sem prótons, elétrons e nêutrons. Desistir de ser átomo e virar nada absoluto. Fora do alcance das coisas. Fugidio das mãos que querem sempre me trazer de volta. Não sirvo pra elas. Não sirvo pra nada. Não sirvo. Só me sirvo de escolhas erradas. Não construo a história, não sou capaz de enlouquecer o sistema, não sou capaz de mudar as pessoas. Meus pensamentos são merdinhas flutuantes que jogam os outros contra mim mesmo. Pior, outros, os quais mais amo. Essa minha maneira idiota de pensar, muito bem definida por uma pessoa desses outros, é o que mais me traz à tona querer ser o nada. Porque de nada adianta ser alguma coisa. Se ser coisa é ser só mais um elemento da soma. Antes ser nada e não magoar ninguém, não confundir ninguém, não magoar a mim mesmo e aqueles de quem amo mais. Porque amor é aquilo que nada não é, mas também parece ser pequeno frente a ignorância dos homens. Os valores estão trocados, as importâncias estão deslocadas. E talvez só me reste ser nada, porque o nada cabe no mundo e não encomoda. Não dá porrada. E as vezes eu acho que nem a conversa e nem a porrada resolvem a desarmonia engruvinhada. O ser está encardido, sem vida, sem respeito, sem uma só réstia brilhosa de humanidade. Assim só me resta querer ser nada. Sem arte até. Pequena por não estar na consciência coletiva. Tudo parece estar mudado pra pior. Me dá um desespero me vendo escrever essas coisas num teclado de computador. Porque parece que nada já sou, que escrevo pro nada, que o espaço é um vazio-nada imenso e que os leitores são virtualidades, impalpáveis, insolúveis, imutáveis e que, mesmo assim, são uma meia-dúzia de conhecidos. Conhecidos? Que nada, não se pode dizer conhecer alguém. Eu nem me conheço. Se fosse nada me conheceria nada e pouco se fodia o que pensasse, o que quisesse, o que interessasse, o que excitasse, o que amasse, o que odiasse e, acima de tudo, o que fosse. Porque não seria, não existiria nem mesmo na memória das pessoas. Nem mesmo. Nem mesmo. Nem mesmo em qualquer conceito. Nem mesmo. Porque me perseguem as escolhas erradas. Nem mesmo. A mágoa daqueles próximos. Nem mesmo. A vontade de ser nada. Nem mesmo. Correr fora, correr. Nem mesmo. Não quero me matar, não quero ser trauma nas memórias dos próximos, e registro funerário e estatístico dessa cidade criada pelo diabo. Seria mais uma escolha errada. Mas um dia descubro uma maneira de ser nada. De desintegrar meus átomos, esticá-los a velocidade do som e depois da luz e depois do nada. Tão rápido que... sumi.

Explodam as faculdades de comunicação. Comunicar é inútil, o ser não quer mais ouvir e eu cansei de esgoelar por aí. Boa vida e boa sorte.