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terça-feira, dezembro 19, 2006

Era

Liso, os Sonossonoros, de cair de ponto em faca de cima da pedra. Susto! Os Sonossauros, os Dinoroncos das ondas sonoras adormecidas. Que fiaca que fica e fica e fica. Os Pterosonhos enchergam o longe e voam por dentro. E sou só passados dos que vêm por em frente. E tudo é só o caminho das coisas. Tudo é só e só é o caminho. Parada: cabana feita de troncos e palha no meio da trilha deserta na encosta do país tropicália, rebelália, pretelália, petelálias vermelhas e muitas frutas azedas e doces e amarrantes de beijos de moça. Parada pra sempre: o mesmo mais o beijo amarrado de moça sem soltar, cem vezes mangaba verde nos lábios. Muito nexo esvazia o turbilhão do caos. Cacos, cosca, se miúdas, cosquinhas, que me fazem rir. Assim, assim, quero assim aos poucos. Cacos me preenchendo às gotas. Parada: a trilha continua e o vento rebate pro sul. Parada pra sempre: o mesmo mais o vento volta mais tarde pra oeste trazendo o cheiro da moça. Se enrosca, bate em sempre um louvado suspiro de amém. Sonossonoros são aqueles que nos enchem de imagens e de minúscula música. Minimalismo nos sonhos animalismo nas rebarbas de textos. Caminho: de pedras. Recaminho: na boléia do caminhão. O circo lá longe está fora de mim. E rivalidade acaba com aproximação, acaba? Um bocejo alto e um "ao longe vês o horizonte?" me perguntou aquele amigo próximo. Vejo ele só... e a estrada. As coisas são outras de outras passagens históricas, momentos de outros tempos felizes. Primeiros primários e depois segundos secundários, mas que já viram terciários e quaternários em ordem de importância, porque o que vale a mesma pena é a pena das coisas levianas e o grau de amplitude das viscerais passagens de tempo, marcadas em passos do passo, longe do ponteiro. A cada entrepernas um segundo, ou vários, ou muitos infinitos na duração do passo. O resto é só o passado de um passo pra trás e o futuro do passo adiante. Repasso: o resto é só o passado de um passo pra trás e o futuro do passo adiante. Reprocesso: O vento volta do oeste trazendo a moça em nú branco e tudo é só um passado fantasma. Vibrações de Roncossauros no Parque das Velhas-Árvores, de longas raízes e alguns becos d'água d'onde se bebe a sede. Alguma vida, sim, alguma há intocável. Caminho: entre-vales. Recaminho: correndo-montanhas. Recaminho de volta: boleia de caminhão-de-circo, meio-caminhão-de-mudança. O Mané ascenou um tchau-oi ao longe de meus olhos... ao longe vejo o horizonte? O horizonte é infinito, não se vê ele, só a cor de sua linha, um assim efeito azulóptico. De longe, muito longe, tudo fica azul. De perto, muito perto tudo fica breu e não se vê a luz. Nem longe nem perto eu quero ver. Fiquem-me sempre a meia-distância. Assim, isso, assim há de haver ... uma boa fotografia. O sol na nunca arde as orelhas e esquenta o pulmão. O sol no sempre arde no ventre e esquenta o umbigo. Centro do mundo, centro do nosso, centro re-centro em si mesmo, se enfiando, ao avesso do avesso, se revoltando ao infinito ao íntimo. Sempre, prende-se em ti mesmo e não verás o fundo, só o rebulisso. O horizonte agora mais perto. O Pterosonho vem voando de um passado jurássico e a vida é só o passado do que vem adiante. E o adiante é só o passado do que vem depois. E o depois é só o futuro que vai ser passado do que vem lá pelo ano final. E o final é o único que não tem passado. Encerra alí, alí é o ponto do presente eterno. As coisas param de ir pra frente e começam a ir pra cima. O movimento vertical do fim se encerra. E sem parágrafo encerro o fim. Parada? caminhão quebrado: lona furada. O tempo não passa e tudo é só o presente dele mesmo, se esticando pro céu e o horizonte fica nas estrelas e depois delas ainda mais estrelas e o universo inteiro pra gente: um feixo de luz do cometa, um sonho sem tempo é o sonho do tempo sem mim e eu sem o tempo.

sexta-feira, outubro 13, 2006

Acalanto para Jorge

De longe, longe. Por certo, perto. Caminha reto, de esperto torto, se dá correto. Por essas destas plenitudes, Deus assim se faz armado. Com armadura de Jorge, espada calibre 38. Sem mais Cosme, Damião ou aqueles infantis erêzinhos de Exú. Só o Dragão? Que veste algo à carater de merecer respeito. Algo adulto, sempre sério. Esticadinho, engomado liso. No lugar certo, na vida certa, sem dar passo ao lado e sair da risca. Porque Deus escreve certo por linhas trópicas. No calor do calor, quente no ventre da Virgem - lua nova, no escuro do céu? Lua cheia de quem pariu as regras... necessárias e exageradas. Jorge excomungado por ter matado o Dragão. Jorge excomungado por abrir caminhos em face de Ogum. Jorge são, não é doente. Vive no mundo da lua, olhando aqui pra gente. Salve Jorge da Capadócia, doce homem de espadas. O dragão é maior hojem dia. Comeu, cresceu, cobre o céu, sufoca a humanidade. Dorme ocê agora, num acalanto tranquilo:

Dorme, dorme Jorge
Que o Dragão doura as faces da Terra
Em guerra, descansas tu
Merece
Deixe os homens
Em ímpar assonância
Deflorarem os seios da mãe
Virem ruir seus reinos de fé.

Ficas aí no mundo da Lua
Assista do alto
O banquete
Não chores, fizeste o que fez, ó Ogun
Toque os tambores em trovões cá chegar
Há de um dia tudo criar festa.

Deixe na mão de Deus e dos homens. Eles arrumaram essa increnca.

terça-feira, outubro 03, 2006

Expectativa é uma merda de se ter. Mas o ser-humano precisa sonhar. Deixe-me com ela...

domingo, setembro 24, 2006

Na contramão das coisas ficam voando os desgarrados de fé: acredito logo insisto.
Só não rezo ajoelhado, vou andando orando a pé. Quem quiser-me que-me acompanhe, porque não; pare se não me acompanha; não sou não; esperar só se for a hora do corte, da poda, da roda, do descanço; mas ainda assim baixo num e mando ver. Na gira ainda corre meu organismo. Na vida quero ficar; eterno eternizar as coisas pra quê vivo: a arte, a sorte e o amor. O resto vem na rasteira - levo nas costas, burro de carga que de burro não tem nada.

terça-feira, setembro 19, 2006

Correção de antemão atrasada:

A sova era de fio - de ferro - de cobre. A bunda devia arder mais que a chapa que passava a roupa.

Memória de irmã que atira certeira... correção feita;
Mais poético... família moderna. Vara, mesmo, vem de outros tempos, tempo de cutucar onça com birra curta. Quando ainda tinha onça. Se já tinha o fio do ferro, pouco em pouquinho sumiu o lago, o mato, a várzea... os fios ficaram... e vão sumindo pra dar lugar ao infra-vermelho, à fibra-óptica...

Os lagos devem estar em algum lugar, a gente que não descobriu ainda.

segunda-feira, setembro 18, 2006

Periferia Nordeste Paulistano - Ou o Corpo Retirante

Ali. Olhe na lista telefônica ou procure num maplink. Divisa com Guarulhos, pela Trabalhadores-Ayrton Sena, com um parque sujo, porém chamado Ecológico, cheio de Quatis e Macacos sacanas. Passa ali a linha do trem Calmon Viana, a famosa podreira sobre trilhos que vaga de extra-São Paulo a centro abandonado reduto de bolivianos costureiros e camelôs. A Estação Roosevelt, antiga e grande útero concebedor de nordestinos do Brasil e ruralistas da europa, interliga o Brás, do metrô; liga a classe-longe a classe-média, gratuitamente, com catraca liberada - que beleza! - faz a ponte ferroviária entre periferia nordeste paulistana e centro, espalhando às veredas corpos retirantes diários que abandonam em viagens suas casas e logo, mais a noite, retornam aos lares fazendo jornada de retorno ao seu meio-ambiente. Começa na Penha, mas ninguém assume direito. Ali ainda é meio centro, bairro histórico distante, mas com um falo gigante chamado Celso Garcia: caminho de comerciantes da São Paulo de chapéu, hoje abandonada pelo efeito Febem, no Tatuapé (centro-leste), bairro nobre do outro lado do trem e zona de guerra com moleques rebelados no telhado do orfanato, aquelas crianças sem pai e sem mãe fazem da antiga via um corredor de ônibus e reduto de putas entre Carrão e Brás. Nossa Senhora da Penha parece que olha pro outro lado. O sino bate pra Radial Leste, o padre no altar fica de costas pro nordeste onde começa mesmo, de maneira assumida, na ladeira de Cangaíba. Morro alto com vista linda, o Parque Ecologico, bem lá em baixo, fica lindo. O lago nem é imundo, é pintado de dourado, com o pôr do sol do outro lado da cidade, assistido em bairro nobre entre Vila Madelena e Pinheiros, na Praça do Pôr do Sol. Carro largado por desmanche é a cada esquina. O Correio-São Miguel Pta/ 1178, passa voando, faz da curva do "S" montanha russa da melhor qualidade. Nem se importam os passageiros: os sentados dormem, os de pé já estão acostumados. Até desenvolveram musculatura específica para curvas da Avenida Cangaíba. Ali há de um baixo-lado o Tiquatira e do outro a linha do trem, seguida pela Avenida Assis Ribeiro, antiga várzea, formadora de lagoas de atrair garça e moleque pra banhar em dia de sol; depois levar varetada na bunda e ficar de castigo, nadar era proibido, mãe não deixa. Era riscar a unha na perna, se ficasse marca de barro seco entrava na sova e não ia jogar bola. A várzea assentou. Passa carro agora. E trem também. Tem campo de treinamento do Corinthians e do Palmeiras, um do lado do outro. Faculdade publica e siderúrgica multinacional. Favela e favela, muita favela, fora do morro, no baixo, escondida. É o tal do Keralux, habitat dos antigos ribeirinhos, abandonados pelo Estado. Aquilo é terra de ninguém. Governo do Estado, prefeitura, Deus? Até hoje ninguém se pronunciou. A esquerda do Queroa lux! tem o São Francisco, quem conhece entra, quem não conhece, fica de preconceito. À direita segue até Ermelino, encontrando os Matarazzo e seu legado falido, terminando num grande Pantanal, de Ermelino Matarazzo, Guaianazes e São Miguel Paulista, terra de Ninguém Ninguém, mas que muitos Alguém resolveram por morar lá: - Mãe, eles moram em casa de madeira, e pisam na graminha. Quero morar lá também! - Filho, lé é a favela, olha o esgoto! Nesse caminho, passou Caixa D'água, Vila Cisper e Jd Danfer. Praça Onze e o futebol moleque dos Onze Meninos, sempre competindo em final de Primeiro de Maio com Jardim Verônia, vem na beirada. Parque Buturussu e Vila Paranaguá. A vila dos operários fica na Avenida Paranaguá, seguida pela praça sem nome, conhecida por Jd Matarazzo, por começar de frente pra fábrica e terminar no Largo Primeiro de Maio - terra de trabalho; avante São Paulo! Meu avô veio de Pirituba pra cá - corinthiano roxo. Paranguá, em Tupi Guarani, curiosamente quer dizer enseada, caminho para o mar. Sem saber disso ficava em casa, quando criança, esperando onda em pensamento, no final da avenida e começo dos meus sonhos. Achava que um dia alí no semáforo ia ter praia pra brincar. Nessa época pegava ônibus e ia estudar em São Miguel Paulista, seguia na Av. São Miguel, caminho de Dom Pedro pro Rio de Janeiro, passando por Itaquá, Atibaia e Santa Isabel. Avenida Imperador ou ainda Estrada Mogi das Cruzes, tão longe, mas tão perto, deixam no Arthur Alvim quem quer ir de metrô pro centro. Perto tem o só aterrado centro de treinamento do Corinthians, que, por isso, batizou por Corinthians Itaquera a mais lestiana estação, levando ao Palestra Itália quem corra a linha toda, descendo na Palmeiras-Barra Funda, pros verde-e-brancos chorões por quererem nome de estação - tão opostas futebolísticasocialmente falando. Cidade Tiradentes já é extremo-leste, nem é mais tanto essa periferia nordeste, onde o sol nasce primeiro sempre. Todo mundo acorda pra ver o trem correr, do lado de fora da porta, olhando pro chão e levando vento-frio-que-o-sol-ainda-não-esquentou. Esse corpo retirante que vai e reretira de volta de onde partiu, pra depois seguir novamente onde chegou, errante entre rios - Tietêquatiraricanduva - na saída da ponte do Imigrante Nordestino, a ultima (ou primeira) da marginal do Tietê de Margens Cinzas, ou na catraca da Roosevelt pro metrô do Quércia. Seguir pra qualquer outro destino seja pra metrô do Covas ou do Alckmin, pro minhocão do Maluf, ou túneis da Marta - há de dizer que a sexóloga parece entender de túnel. Esse rumo de retirante nordestino sigo toda santa hora em todo Dia de Maria. Com o corpo de quem não se acostuma direito à rotina, mas segue indo, em andamento, no pulso da cidade, no pico da psicologia frenética de metrópole que um dia te tem, um dia sempre. Te pega.

sexta-feira, setembro 01, 2006

Chove mesmo chove. Lava essa cidade em fluidas águas, molhadas de suor do trabalho. Paulistano arde, paulistanos da Bahia, de Sergipe, Paraíba, todos cabem nesse Brasil metrópole, brasil de economia. É só olhar o quê desce o morro. Barro, lixo, na enxurrada vem gente rústica, vem nessa acústica onda de certezas, de certas pobrezas com cara limpa, lindo aspecto e glórias incabidas. O recheio é oco e oco também é a barriga e a cabeça e a cabeça e a barriga, vento e saudade. Saúde? Nem tento, nem arrisco, se é saúde atestado médico e viver assim a sono e hora todo Dia de Maria. Brincadeira de escola é o qu'eu queria. A agonia é sem volta. Casa e romaria na favela, o cruza-cruza é todo beirando a rodovia. Métodos de vida. Ninguém escuta não, vive-se apenas. Nem se aprende, nem se ensina. Só recebe nas solas o fio da roca que nervosamente se fia. O ônibus vai gastando óleo diesel e estou certo de que essa é a minha anatomia, esse é o meu corpo, é o corpo que arrependia. Mas na volta não tem volta, a estrada é sempre outra a cada vez que se olha para trás. Os caminhos são tantos que das escolhas não fazemos conta, escolhemos e seguimos sempre, sem nem se ver nelas desenhado, nem em previsão de cores e formas. Quando me olho já me vejo vestido com roupa feita medida, cabível no corpo, grudada que não sai nem a ferro e fogo, tesoura e navalha. Feito roupa molhada de chuva lavada em cola sem saída. Ando e me grudo, me prendo sem nem ver, em esquinas, casas, praças, igrejas, prédios, ruas, viadutos, avenidas, lojas, árvores, postes, cães, gatos, trens, calçadas, rios, poluídas fachadas, pontos de ônibus, guardirreios, nem freia, nem pára, carrega a cidade inteira intalada na garganta, amarrada nas costas. Não importa pro lado que vire, pro rumo que siga ela vive ali sobre, fazendo careta por detras, zombando postera, querendo ir na contramão. Não me deixo assim por defeito com corcunda de chaminés e carros, soltando gases e sirenes a torto e a direita. Sigo indo carregando e indo enquanto sirvo de matéria prima pra metrópole, sou combustível rico em carbono, duradouro até a aposentadoria em cinzas fáceis de voar por esses ares carregados de maio-branco-meio-preto, sou carvão pra esse brasil de economia, vermelho de fé, de tanto andar a pé e de raiva.

sexta-feira, agosto 18, 2006

Atrás

Dizem que atrás da porta dos sonhos existe aquele serzinho de quem a gente sempre leva um susto. Quando tudo acorda no clarão do meio-dia e já passou almoço, hora e sobra a apatia. Dá aquela preguiça de tarde vazia, com vento vazio, luz do sol vazia, sorrisos vazios, horas vazias, horas e mais horas, sobras de sustos, meias-delongas e delongas inteiras vazias, televisão sem energia e livro sem palavreado algum na escrita. Fica tudo assim à cegueira de não querer enxergar nem preto nem branco, só de ver tudo transparente, através dos outros e da ida: e da volta vida. Nesses dias de sonho, sonhados em plena luz do dia, com cachorros e crianças na rua, pipa e correria no céu, aos poucos um sustinho sempre revela aquilo que sem sempre a gente quer ter - porque fica assim sem chão - o céu é de lilás, alilás, a rua só tem curva e o prédio te dá uma piscadela: e não é reto, é em rodela. Um homem de cuecas que passa voando e outro de gravata macaqueando pelos viadutos de cipó raiz e galhos. Passam os carros sem freio e sem matéria, não batem nunca, seguem toda vida lânguidos em ares e em mares de esgoto limpo e terra fria no lugar do asfalto quente. O sol toca macio com pontinhos de fervura pra cosquinha na gente dar. A chuva despeja mel e a abelha te convida para um chá. Dinheiro vem a granel, mas pra quê dinheiro se a troca se dá no buraco mais em baixo, onde eu canto uma canção e recebo um belo sapato? As roupas são de tecido fino e fresco, só para manter a higiene, e os pés... é os pés preferem estar descalços: "moço, poço trocar o sapato por um buquê de flores pra minha linda morena?" Existem trapézios de vôos em toda praça; e o circo do sol se apresenta de graça! Que maravilha de orquestração de passarinhos e risadas, e vozes, e poesias faladas, além das cantadas: alaúdes, tambores de pele de carneiro e flautas de bambus e madeiras esculpidas com detalhamento, todos acompanham o casamento. Fúnebre irônico e colorido, o palhaço faz o enterro final, o da própria morte, porque agora todos somos senhores de vida etéria... e sorrisos de olhos cansados, sonosos, soneiros, bocejeiros, uaaah...! Um espreguiçamento sem vez! Ufh! Mas o sustinho vem travêis: aquela porta não tinha visto mais, será que é de fazenda, de hospital ou de casa de oferenda? É tudo um grande transe ou levei pancada na cabeça? Reconheço e me reconheço. É local conhecido, de noites e de dias. É só manhã e da porta, saída do quarto, começa o corredor, que dá no banheiro, que dá na privada, aí dou aquela cagada e vou enfrentar a greve do metrô.

domingo, julho 23, 2006

Assim, tento assim, deixar adormecido... impossível. Mesmo porque sei que traz no peito uma saudadezinha que vem de longe, de janeiro, de rios, de praia e funk. Não sei se te completo. Mas sei o que me esforço e me peço pra ser mais diferente. Acontecer a maneira que me pede, num esforço físico capaz de mover montanhas mas que não é suficiente pra segurar o que me faz insuficientemente não seu. Mais, preciso de mais e não tenho mais. Sei que traz no peito uma saudadezinha que vem de longe, principalmente nesses momentos. Aí me rasgo inteiro e não entendo e do não entender fico quieto. Abandono as vozes de cumplicidade. Me arrependo da intimidade. Sumo presente por querer sumir de vergonha de vez. Mesmo porque sei que sempres vezes o janeiro bate volta nesse rio corrente, forte, cheio de carne, corpo, tempo, tempo, tempo, duradouro tempo, aproveitado tempo, tempo de liberdade ao som de muito funk e caraokê. E só a rede... nem só a rede. Queria te fazer tremer. Não abro mão de ti, mas me pego no apuros sempre, sempre nesse tempo curto de mal me perceber, te perceber, nos envolver. Não abro mão de ti, mas sempre me pego no apuros de não saber mais o pé das coisas e desesperar-se ao ver que frustra. Mesmo porque sei que traz no peito uma saudadezinha danada... queria te fazer tremer. Também queria ser mais violento. Me pego sempre no apuros de não saber fechar o punho quando é hora, de fechar o cú na hora certa, acirrar o ponta-pé e de fazer voltar a porra que sempre faz doer. Violento pra dar o murro na minha própria cara e ficar de olho roxo, cego, sem dente, de nariz quebrado. Me esmurrar por dentro, viver na cerne, acostumar na dor do sentimento... acostumar na dor pra dar prazer.

sábado, julho 22, 2006

Viver de pão e circo

Ai que dor nas costas dessa vida de levar o circo fora da carroça, erguido no braço, equilibrado na cabeça. E aí só sobram as pernas pra correr no chão a pressa de chegar n'otra praça e voar pro próxim número, se desdobrar em três, fazer outra vez e outra vez e outra vez. Colocar o pé nas avessas, dobrar ao dobro as dobras. E lá vamos nós outra vez, levar o circo fora da carroça, erguido no braço, equilibrado na cabeça. Ai que dor nas costas. Aí só sobram as pernas pra contar um, dois, três e fazer tudo outra vez. Fazer a troça, abrir a trouxa e apresentar o drama. O malabarismo, o trapézio, o vôo, o equilíbrio, o sorriso do palhaço, o avesso, o avesso contorcido, o avesso e o monociclo, fica na dor nas costas dessa vida de levar o circo fora da carroça, erguido no braço, equilibrado na cabeça. Fica nessa mania de montar e desmontar a lona, de mudar de rumo toda vez que algum parece estar perdido. Fica pra outra praça porque nessa o publico ficou na validade vencido. E o circo teatro chegou com a Paixão de Cristo! E fico nesse sacrifício de ver assim, viver de dor nas costas, sem carroça, sem braço, sem perna, mas também sem dia perdido. Ah, ganhei meu dia desfazendo a troça, abrindo a trouxa pro rufar de tambores: o galã entrou pro drama! E a platéia chora, e o circo volta pro meu sonho adormecido. Levanto da cama fazendo meia-hora, vou pra rotina seis-horas-meia-noite com dor nas costas, dessa vida de levar tudo fora da carroça, erguida nos braços e arrastada na consciência. O que eu queria mesmo era viver de pão e circo, no melhor dos seus sentidos.

sexta-feira, julho 07, 2006

O Nome Que Quiser

Com, compre dom, mesmo, o que ais de ser as vidas de eu mesmo... mesmos... sempre sem. Caiu a mofeza das aquelas partes pares doentes das mesmas, som que ais de ser as cidras de eu mesmo... menos... sente e vem. Pus a menos, fundo de hora, me doa, trevo, bem. Berne de bezerro em pasto queimado. Só tem carcará e grito n'alto morro seco e cinza de fogo abafado, vermelho quente apaziguado pelo aboio dos ventos contrários, é acalanto.. tuuuu boi de um lado tuuu boi de outro. O fogo se queima e se mata. Rente rente passa perto frente sempre rente vente vente vente vente ventre cobra ventre cubra rente perto frente reto certo deserto morro... boi carcará e morro, morro de morte e de terra, de gases e de Deuses semi-homens. Morro de pedras. Passava ali rapaz de boa perna, corredeiro, andador de passos largos e olhar adiante. Seguindo as vozes de desfiladeiro de boi fugido, morrido da fuga, caído em penhasco. Homem perdido, bicho varrido, disfarçado em roupante de gente: já é outra coisa que não mais de banho, de unhas cortadas e de bom falar e sorriso cheio de dentes. É de um olhar que nem se entende, o olho daquela gente fala outra lingua que não mais essa comum de sentimentos cantados nas modas, nas festas, nos pagodes. Nem música tem mais não, tem só solidão de nota só nota de agarrar pra sobrevivência. Lá no pico, bem lá no pico. N'alto da serra misturava em cinza. Podia ser aquela relva queimada sem longe desfigurança, reconheceria, sim senhor, que aquilo era semelhança: o pó e a pessoa eram quase a mesma coisa, se não fosse por ter aquele um coração batente e uma cabeça de nosso modo demente, mas em modo de ser aquela espécie de ser coerente ao que necessitava pra se reconhecer. Fuçava nos bolsões de casulo, tôco e qualquer buraco escondido, atraz de bicho morto ou ainda semi-vivo. Boi não via mesmo não, só em saudade, com imagem na cabeça. Era rapaz de boa perna, corredeiro, andador de passos largos e olhar adiante. Era rapaz? Era rapaz. Por um repuxo de tiro de senhor pra acertar bucho de urubu roubador de área afetada, pra espantar aproveitador de terreno sem dono porque passou a dona queimada, faz fugir o cinza homem de medos d'antes de morrer, agora de viver assim a ferro, fogo e bala. Corre adiante, pula morro, rebola tôco desvia de armadilhas da sua própria mãe natureza que em seus causos vive pregando peças na gente. Modesto de calma pensa e repensa a sua valia. Valia a pena, valia. Seguiu pro próximo morro, pra próxima ponte, pra próxima angústia em canto de apartamento vazio. Cortou pé de cana, pediu sua esmola e ligou pro seu pscanalista. Desses homens iguais de sopro, pr'esses homens iguais de sopro, canto meu aboio, prece, sacro. Hum... que as vezes dessa santicidade os pilares caem, as cinzas choram e o mundo acaba em dó maior. Tudo é festa, tudo é o que resta e o que resta também não é tudo o que falta, por isso vamos acabar em seresta e descobrir a viola de acompanhamento - são dez cordas e não dez mandamentos.

Fico assim dê a isso o nome que quiser...

sábado, junho 24, 2006

Corpo Jaburiticabeira

Buriti Jabuticaba Jaburiticabeira
Leio Sou Construo

Saio no escuroinhozinho sem saber do Pinhém, do São Paulo, do Urubu qua quá, me bem. Sei sempres vezes que sente as sedes da saúdadezinhainha de quem vem de longe. Te amo mesmo assim, saudosamente afim.

O Buriti de Guimarães é alto a Jabuticaba sou eu Jaburiticabeira é que peço, espere ser, pra me entender, nesse processo.

quinta-feira, junho 15, 2006

Mostrar tudo

É o que eu quero.

E que venham as deixas de texto

Porque chegou a hora do meu monólogo.

terça-feira, junho 13, 2006

Sala das Mistas

Quero assim essa sala em vistas das minhas manhãs e tardes da noite e tardes depois do meio-dia. Quero assim sempre mista com habitantes de demoras senhoras e senhores no tempo largo de copa roda do mundo e a hora sempre volta a hora inteira anterior interior. E um trapézio pra balançar no meio com o trampolim pra saltar no seio das nuvens. Porque a sala é aberta mas não chove só respinga o sufciente pra refrescar a gente de dia e acolher no orvalho na noite o sono dormido de senhores e senhoras discutindo filosofia pelos sonhos. Valsas nos entretempos em contratempo no compasso três por quatro por cinco vezes ao mesmo volta-e-meia belo bonito lindo amável surpreendente pôr-do-sol-das-seis-da-tarde. Arde aquele beijo demorado sem hora de ser nem ter nem ver nem saber o quanto é o que vale o que parte o que cabe o que desacabe por fim de terminar. Perceber o círculo reinventar a roda sempre reinventar o circo sempre reinventar reinventar reinventar.

SSSSsssss

Não quero isso assim... repetir a história. Existe algo que está além do astral e preciso agarrar com as duas mãos. Quero um novo rumo. Paro, penso, re.re.re.re.re.re.re.re.repetindo tudo, não quero isso assim... repetir a memória. Quero criar nova. O quê que eu quero? Quero não sei não. O queê? Qué tb um ser assim o que é que é então? Num não, sei ai. Repetir Estável... instável demais pra ser assim. Vim protra coisa. Aprendi, agora chega: vamos lado-a-lado? Longe de estar em cá do po... povo? De ouro esse... meu balaio é outro. Não acho, não pesco. Um circo de idéias, angústias, inquietações na estrada. Não, sem estrada, só se for pra nunca mais. Cada um por si e todo mundo na lona? Tá cada vez mais down na highsociety... ai a classe, artistas. Popzeando à tona... a toa... na boa... avoa, é avoa. Por assim também não sei. Ai ai... aiSsim... sssss... sim. Só sei que sim. Sim pro que vier.

quinta-feira, junho 01, 2006

Me Deu na Cabaça

Rasgado no seio da santa lenda de Calcutá
Partido
Salvem ainda a sobra de boa vontade
Boa saudade daqueles que pensam em ajudar a salvar
Esse altruísmo de processos conglomerados. Podres ares de humanidades macaquianas que não sabem muito mais do que abrir um côco na pedra. Muitas vezes na cabeça.
Me deu na cabaça: escrever assim sem se ter sentido de ser

terça-feira, maio 09, 2006

Boa vida e boa sorte

As vezes tenho vontade de desistir. De tudo. De todos. Sumir pra nunca mais. Mas é mais forte do que matar-se, isso é pros fracos. Sumir é desintegra-se, não ser mais nada, não estar mais em lugar nenhum, nem na memórias das pessoas. Como uma partícula sem prótons, elétrons e nêutrons. Desistir de ser átomo e virar nada absoluto. Fora do alcance das coisas. Fugidio das mãos que querem sempre me trazer de volta. Não sirvo pra elas. Não sirvo pra nada. Não sirvo. Só me sirvo de escolhas erradas. Não construo a história, não sou capaz de enlouquecer o sistema, não sou capaz de mudar as pessoas. Meus pensamentos são merdinhas flutuantes que jogam os outros contra mim mesmo. Pior, outros, os quais mais amo. Essa minha maneira idiota de pensar, muito bem definida por uma pessoa desses outros, é o que mais me traz à tona querer ser o nada. Porque de nada adianta ser alguma coisa. Se ser coisa é ser só mais um elemento da soma. Antes ser nada e não magoar ninguém, não confundir ninguém, não magoar a mim mesmo e aqueles de quem amo mais. Porque amor é aquilo que nada não é, mas também parece ser pequeno frente a ignorância dos homens. Os valores estão trocados, as importâncias estão deslocadas. E talvez só me reste ser nada, porque o nada cabe no mundo e não encomoda. Não dá porrada. E as vezes eu acho que nem a conversa e nem a porrada resolvem a desarmonia engruvinhada. O ser está encardido, sem vida, sem respeito, sem uma só réstia brilhosa de humanidade. Assim só me resta querer ser nada. Sem arte até. Pequena por não estar na consciência coletiva. Tudo parece estar mudado pra pior. Me dá um desespero me vendo escrever essas coisas num teclado de computador. Porque parece que nada já sou, que escrevo pro nada, que o espaço é um vazio-nada imenso e que os leitores são virtualidades, impalpáveis, insolúveis, imutáveis e que, mesmo assim, são uma meia-dúzia de conhecidos. Conhecidos? Que nada, não se pode dizer conhecer alguém. Eu nem me conheço. Se fosse nada me conheceria nada e pouco se fodia o que pensasse, o que quisesse, o que interessasse, o que excitasse, o que amasse, o que odiasse e, acima de tudo, o que fosse. Porque não seria, não existiria nem mesmo na memória das pessoas. Nem mesmo. Nem mesmo. Nem mesmo em qualquer conceito. Nem mesmo. Porque me perseguem as escolhas erradas. Nem mesmo. A mágoa daqueles próximos. Nem mesmo. A vontade de ser nada. Nem mesmo. Correr fora, correr. Nem mesmo. Não quero me matar, não quero ser trauma nas memórias dos próximos, e registro funerário e estatístico dessa cidade criada pelo diabo. Seria mais uma escolha errada. Mas um dia descubro uma maneira de ser nada. De desintegrar meus átomos, esticá-los a velocidade do som e depois da luz e depois do nada. Tão rápido que... sumi.

Explodam as faculdades de comunicação. Comunicar é inútil, o ser não quer mais ouvir e eu cansei de esgoelar por aí. Boa vida e boa sorte.

quinta-feira, abril 27, 2006

Dividia o pão quando espreitei de relance o que acontecia a minha esquerda. Sentados a mesa estávamos - eu e meus irmãos. Papai via tudo meio de cima, um olhar que talvez não fosse assim tão inocente, ele sabia. Minha mãe já compadecida esperava o acontecido e o acontecido era de que não se podia fazer mais nada. Mas fazia: continuava.

quarta-feira, abril 26, 2006

Eu, meu caramujo, minha casa

Uma dramaturgia das pequeninisses. Fragmentos de pessoas que se traduzem em falas, que são ações, que são falas que são ações ques ão falasqu es ãoa çõesques ãofa lasquesão. Ações... substantivo apluralado por pensamentos. E o meu corpo que é tudo isso. Minha casa, do dia inteiro, que dorme a noite e se autoreforma pro cotidiano, em ambulância, itinerante, nômade, locomotiva primária, seja de pé ou de quatro, pro fronte ou pra retaguarda, pra calma contemplativa de paisagens ou pro desespero. Espero... espero... espero... sou casa e caramujo... espero... espero... espero. Sou o teto e o quintal... espero... espero... espero... Sou o assoalho e o porão, muitas vezes sou só porão... só porão... só porão... e espero... espero... espero. Sou o meu sobrado aberto a sete chaves, sem muro e sem portas, pra vida e pro tempo, pra sorte e pra sociedade, pro mundo e pra deus! Pena não estar para estadia. Sou minha casa e nela todos cabem, mas morar, não por minha vontade mas por natureza, niguém mais fica que não seja eu. Mas dessa idéia não desgosto. Aproveito... como eu todo Outro tem sua casa e dela seus aspectos. Morar junto é juntá-las além do abrigo de matéria teto, matéria chão. Esse corpo, que é E=mc ao quadrado, se junta no cinetismo, no moviemento das coisas, e dois sobrados viram um casarão, na iminente presença do sexo. E dali a construção...

Um corpo é uma casa. O que tem na sua? Se contar conto o que tem na minha... aliás, talvez seja isso que esteja fazendo desde que comecei essas minhas... não sei.

sábado, abril 08, 2006

o Corpo que teme

De tudo, te peço pra não ser rasa. Não fuja desta dor que o fundo reserva. O submundo te aguarda às pressas nas presas e nas garras. Amarra teu âmago e levanta teu véu. Mostre a cara pra quem deseja ver nela a face que não interrompe o processo do medo.

Que medo tenho eu senão o medo do próprio medo. Ele me trava, me parte ao meio e joga a vontade de cada metade pra lados opostos com polos iguais. Ficam as duas em positivo, se repelem e não se juntam nunca mais. Esse trauma do trauma é o fundo que tenho medo. O submundo me aguarda com as vestes de sombra e da escuridão já basta a falta de claridade. E da razão já basta querer só realidade. Meus sonhos são as brisas que levantam o tule do véu e me ventilam a cara interrompida, paralisada, pelo penoso processo do medo.

E a vida de Davi segue ávida... não vê? Salomão pode ser Salomé e aquilo que aprendemos já foi derrubado por uma teoria qualquer. Édipo cego pelos olhos da humanidade cega já nos milênios gregos de atrás. E nas entrelinhas da história o medo é segundo lugar, enquanto o heroísmo segue na ponta de virtude primária. A estória bem contada vale mais do que a foto estampada. Isso porque as palavras cobrem aquilo que mancha, que fede e que desagrada. Levante esse rosto e vire essa folha de paisagens. Esteja a frente daquilo que é visceral.

Mas o medo é víscera. É carne trêmula, é adrenalina. É corpo em hormônio. É suvaco fedido do nervoso, do iminente perigo. O medo é gambá e é humano! É se cagar, se mijar, sangrar e chorar esse sangue por dentro. É pregar na cruz o corpo pela maldade e pela redênção. Sinto medo porque existo em ser-humano. Sinto medo porque os sonhos são incertos e as virtudes desnecessárias. Não dissipo energia por esconder a face do medo. Reservo um pouco dela pra poder sorrir depois. Proponho um breve pausa.



Que silêncio.

É do silêncio que tenho medo, nele existe...

Exite o que?

O não dito... só pensado. Me deixe assim agora, sem mais saber

Quer o silêncio?

Quero o gosto desse temer.

quinta-feira, abril 06, 2006

Quatro Paredes

As ruínas que guardam pessoas também desguardam sentimentos. Arrastam pra fora os ares e deixam por dentro o pó que salta dos cantos todo aos montes. E os monstros imaginados do lugar desabitado nada mais é do que os próprios monstros habitados por dentro de nós mesmos. Nos deixam com medo das paredes, das escadas, dos elevadores. E essa sensação de abandono que preenche o vazio com vazio, pó e nada de colorido. Esse gosto por desespero. Nada. Esse niilismo perverso necessário ao desenhar das primeiras linhas no espaço. Esse niilismo perverso desnecessário ao desdenhar o que acontece de fato.

As caminhadas vinham de cima. Dormiamos em silêncio de medo e de frio. Ninguém sabia o que era o que vinha. E todos fingiam dormir, com os olhos cerrados esperando o inesperado. A presença era nítida, algo existia ali dentro. Preenchia aquele espaço com uma energia estranha. Podia ver aquilo examinando tudo, se aproximando. Podia ver de olhos fechados a clareza daquela coisa que de coisa não passava, assim mesmo, ontológica em si e, por isso, tão assustadora. E do mesmo jeito que veio foi embora. E o dia amanheceu. E os trabalhadores operariavam. E os cachorros vadiavam. E o sol era exatamente o mesmo. As coisas permaneciam aos seus lugares. E os medos sumiam com a luz do dia. E o dia começava ao seu lugar. E aquela sensação permanecia dentro da gente. A caminhada, o frio, as coisas sendo examinadas por um corpo estranho. Os olhos que não abriram não podem nada confirmar. O que não é visto não é acreditado. Podia ser Nietzsche, Godot, o cachorro, ou o caseiro. Só não era Deus. Deus já me disse adeus pra mais de cem vezes. Talvez fosse a centésima primeira. Não sei, esse Deus se for ele o que habita dentro da gente, de dar jeito de estar na ruína do peito. Então pode ser esse deuzinho que me falar xau mais uma vez veio, me deixando as vendas das vistas pra não vista ser a experiência do medo entre as quatro paredes.

terça-feira, março 21, 2006

"O Rio passa e tudo leva"
O Tempo passa e tudo leva
O tempo é rio
O rio é tudo
O tempo é tudo
E tudo passa.
As pessoas de Pessoa são pessoas pessoadas
Não são gente exatamente
Mesmo assim, se de perto examinadas
Brincadeira inocente
Se percebe e se aproveita
O poeta as faz vivas
Sobre o colo das palavras

sexta-feira, março 10, 2006

Pergunta:

Qual a lógica do relógio analógico?

Pergunta:

Com quantos paus se faz uma cama de motel?

Pergunta:

Como seguir em frente sem dinheiro?

Pergunta:

Se o se é condicional qual a condição do me se tornar nosso?

Hein?

Hein?

Hein?

Meu Corpo em Três Atos

Terceiro Ato - Do Centro o Quente ou Do Ventre ao Sequestro

Perdido na nua crua selva de pelos cura a dura serpente - elástico
Reservada a estrela serena de pele morena sereia que parte e eu não parto - sistema simpático
Preparado o chá o lar o mar o par o céu o réu e o orgasmo - sistema parasimpático

Paraninfo
Ninfo ninfa enfia enfia
Do centro o quente e de frente respiro no ventre
De costas só penso em sequestro
Meu ato ultimo
Meu ultimo salto
Sedento ao coito encerro meu corpo em três atos.
Em três vias que sempre terminam em sexo
De fato.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Meu Corpo em Três Atos


Segundo Ato - Da Mão a Testa, Que Pensa Que Pensa

A fresta
Vivendo na confusa imagem que resta
Passada as estreitas pelo cabresto
Está feito
Pensado
Rasgada a imagem da festa
Que merda
Sofrendo na lei das virtudes e sabe
Vi direito
E por respeito
Fico quieto.
Da mão a testa
Do toque arrependo e a moral desconversa
Oral, anal, substâncial
O que vale a testa?
Será que tem fresta que arreganhe o valor? Deixa a festa
Encerra o ato que intermeia
Logo logo partem as meias
Horas
E entramos todos numa grande energia sexual.

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Meu Corpo em Três Atos


Primeiro Ato - A Mão Que Toca o Instrumento

Pega a pele
Pega a gosma
Pega a sede
Pega a sola
E sola tudo numa suite Wagneriana

Pega o olho
O repolho
O zarolho
Finca
Planta o caroço
E nasce um trecho dissonante
No piano parecido com o de Mozart

Pega em cheio
Chuta o saco
Enche a tese
De certo
Disserta à ralé dicotomia
Anemia
Sub-revelia de paixões
De tensões
Distrações
Vencidas na partida de futebolimia
De simpatica rebeldia
Chuta o saco
Golpe baixo
Gospel rádio
E a moderna música brasileira de 1960
Tocada no séc 2001
Ufa!

Ato torto
Escoliose
Escolástico demais
Pega a nota "passe vasilina, enfie, soque e meta no tanque de gasolina"
Numa pré
Numa quase fé
Numa pré musicalogia
Num ato de um corpo
O primeiro
Em espelho me reflete
Numa pré
Só esquete
Numa breve passagem de Tom Zé.

Ô Tom Zé!

Meu Corpo em Três Artes

Sempre rabisco em mim o circo
E a música
O teatro é forma
É a folha em branco pronta pra ser escrita
Com rabisco
O circo e a música
O teatro é só amálgama
Juntar tudo em meu corpo que é a tela
Pro rabisco
O circo e a música
O teatro é estrutura
Pro rabisco
O circo e a múscia
Só de palhaços e dissonâncias
Respectivamente
O teatro... é amor, mesmo assim.

sábado, fevereiro 04, 2006

já falei muito de saudade
Assim diretamente saudade
Saudade em tudo saudade
Pinga a pipa na tarde de criança
Corre o marmanjo fazer cerol
Sobe, quebra telha no telhado
Empina mesmo que molhado o papel pesado
A rabiola risca Norato no céu
Cabeça em losango mais retângulo
e lá está
Triunfante a peçonha voadora.
Talvez nunca tenha falado de amor
Assim diretamente amor
Amor em tudo amor
Pinto
Bordo
E faço crochê

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Quero deste espaço
A praça publica da internet
Onde putas fazem ponto
E estão longes os cdf's
Fazendo plantão de física
Descobrindo a bomba atômica
Colocando a mão na massa
Na desgraça quase tísica de chegar ao ponto
De não ver o ponto que se chega a praça humana
Perder a poesia e a grama, a árvore e a criança
Perder a boemia pros sites de jogos da vida
E enxergar a pornografia por trás de uma tela que faz mal a vista.

Quero deste espaço a visão que não queria.

terça-feira, janeiro 31, 2006

Corpo Circular

Segue o circo no seu rumo, quem quiser que vá atrás. Porque ele segue em frente sempre, depois volta. É circular. A caminho do circo eu vou, no balaio estou sempre a me perguntar: porque mesmo depois de tanta viajem o circo volta sempre ao mesmo lugar?

Respondo e volto sempre ao mesmo lugar
Pergunto a resposta e volto a perguntar
Retorno eterno nessa roda
Que embora sempre roda vale a redundância circular

Redunda
Redonda
Rede
Onda
nda
nada
rola
tudo roda
sempre a retornar.

rumo ao Circo do Balaio!

terça-feira, janeiro 24, 2006

O Corpo do Aperto do (r)Ego

Por perto, aperto
E resseguro o verbo
O Reto aperto
Seguro certo pra não entrar nem sair nada.
Que nada, o nada nada no mar sem fim
Nem começo
Nem nada
Só o tudo por completo
Tudo é tudo e nada mais
Redondo e imendado
Sem canto, sem teto
Até redondo é o reto
Querer estar por perto no redondo é sempre longe
Bom estar assim se por largo se faz estreito
E por distante se faz próximo
A fila anda e o mundo roda
O reto dilata e contrapõe
O movimento que expele a merda,
A arte
E a ferida.

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Carta ao Corpo de Pasárgada

Pasárgada à 6 Km

Me pego na fração do tempo e penso e repenso qual deve ser minha vocação. Gosto das artes, como gosto!

Toco violão
Brinco de percussão
Canto mal mas tenho o meu charme
Componho
Na composição escrevo e escrevendo faço poesia e filosofia
Estou longe de escrever bem
Dá pra enganar na cambalhota
Circo, me bota corpo bonito

Por enquanto não vou muito além disso

Sou classe média
Fico no meio
No medíocre
No que é bom mas não é ótimo
No que me dizem ser bonito
Mas será que é autêntico?

Toco uma punheta
Brinco de ser xereta
Canto de sala com seu charme de bordel
Componho
Na transposição inverto e invertendo faço esteria e demagogia
Estou longe de falar bem
Dá pra enganar os idiotas
Circo, me bota um tanque no abdômem

No entanto, e o Homem, como fica tudo isso?

Pelo pelô pélo o pêlo no pelourinho. Chicotadas nos pormenores da vida, na bunda, na virilha. Nesta terra que tudo planta e tudo dá, só não dá pra ser artista. Numas e noutras penso em ir pra longe, lá pros interiores, viver de natureza, a verdadeira poesia que salta aos olhos, aos ouvidos e à pele. Reescrever Macunaímas e enlouquecer no colo da amada. Fundar comunidades e tentar uma nova sociedade. Plantar para comer, criar para viver e não pensar em sobreviver. Ô utopia! Sumir dessa selva de pedra que é um emaranhado de redes de pesca arrastando as tartarugas.

Não fujas
Não fujas
Fujas
Fujas
Fujas

Gosto das artes, como gosto! Mas aqui, nem assim me sinto bem. Ficam os amigos, fica a família, fica. Fica que eu vou. Se quiserem venham pra Pasárgada comigo. Venham que eu não fico, não fico porque vou. Vou encontrar os modernistas, Mário me espera ansioso. Estou saudoso. Lá não precisamos de dinheiro que aqui compra até felicidade. Lá está tudo mais ameno e aceitam bem as artes. Assim como aceitam os padeiros. Temos emprego e todos nos adoram. Nos têm como sociais. Em Pasárgada todos são amigos do rei. Lá o tempo pára pra romaria passar. O amor é mais amor, o sonho é mais sonho, o tesão é mais tesão. O choro é mais choro e a dor é mais dor. Não existe maquiagem, as máscaras caem e todo mundo fica nú! Vamos para lá encontrar Godot ao lado de Becket rindo das nossas caras que chegam com pavor. Cumprimentar São Jorge com seu cavalo de pau. E cuspir fogo no rabo do Rei. Lá todos são amigos do Rei. Lá todos podem ser autênticos gays. E os heteros serem caretas felizes, livres dos rótulos do modismo. Tudo é livre de qualquer machismo, feminismo, vanguardismo, cismos de ismos, rótulos e categorias que levam ao preconceito. Lá seremos perfeitos! Posso ficar debaixo da árvore, no pé da cachoeira, escrevendo Cartas aos Corpos e beijando a Ângela a vida inetira. Entender o que é intuição, distração e criação artística. Entender o que é tempo, espaço e metafísica. Entender o que é afeto, amor e tesão. Entender a morte e a vida. Os dualismos e os poliedros, polifaces, policorpos e políticas. Entender a dialética, o épico e a loucura. Entender a estrutura, a matéria, a base, o chão, o meio e céu. Entender a música e a emoção, o teatro e o pensamento, a poesia e a lírica humana. Entender a tentação do inferno e a religião. Entender o sagrado e o profano. Entender o milagre e encontrar Jesus Cristo Pop Star. Entender o que é e como funciona tudo isso. Como se dá no meu corpo. Entender os micropoderes e o sorriso da Monalisa. Entender a pulsão em Nietszche e a pulsão em mim. E desejar que tudo seja Eterno Retorno! Vou me embora pra Pasárgada porque lá posso viver o caminho, o processo, o fluxo do rio e o fluxo do tempo, os instantes presentes. Posso plantar pra nascer, a semente perfeita pra árvore perfeita de frutos perfeitos de sementes perfeitas. O ciclo, o círculo, o circo. O circo... o circo...

E eu num sonho
Não me acordem
Não me acordem
Me sacodem só quando terminar a viajem

Paiê, falta muito?

Meu pai? Já deve estar lá conversando com o Mário...

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Simples como dizer angú.
No seu cú, jaburú
Simples como as coisas mais complicadas da vida.

sábado, janeiro 14, 2006

Um Corpo Só

Só de corpo vivo em meu mundo torto. Um corpo só de só um corpo. Um mundo torto que quer ser reto, ser letrado, ser esperto por ter estudado. Mas certo, certo, mesmo só de corpo faz-se a sabedoria. Experimentar o que vale a via, pra conhecer o que há de excesso. Em minha sabedoria colho do sentimento o fluido de um só corpo. Intuo o pró-corpo em processo de pró-ternura. Estar eterno e tenro e perceber o elo, o fluxo, o rio corrente em frente, o que liga o meu policorpo na unidade não federativa, mas livre, de prazeres, poderes e afazeres sociais, biológicos e testimoniais. Ao fim disso tudo serei só corpo, talvez erguido em jabuticabeira, com jabuticabas pingadas do pé. Mas por ser tão poli num só homem talvez encontre goiabas, laranjas, romãs e pitangas. Todos os pólens saindo de todas as flores, semeando em todos os frutos, a odorificar todos amores. Raízes de todas as árvores e terra de todas as nações. Sigo meu rumo nessa internet livre e que meus direitos autorais estejam por respeito num só corpo endireitado e que, por pró-consciencia, meu projeto de corpo seja uma tentativa letrada de dizer aos meus pelos e peles, sacos e pensamentos, estômagos e cardiovasculações a carta que os escrevo, a Carta ao Corpo em corpo(r)ações.

Obs: tudo que é "pró" lê-se a favor da correnteza do rio. O rio pode estar pro bem ou pro mal; também pode estar além do bem e do mal, o importante é que ele está indo a algum lugar. O fim? A mim interessa o caminho...

sexta-feira, janeiro 13, 2006

Corpo do anjo.





Anjo,
Me anja
Me açucare com o seu manjar.

Meu anjo,
Me ângela
Me pele, me gele, me mostre como
desp
enc
ca
r
no seu arranjo de nuvem
Te levo, meu anjo, cachos de uvas
litros de vinho e licores do diabo
Pra sempre angelicar
Os pecados oferecidos como sacríficio
Da alma
E viva o corpo!
E viva o corpo!
E viva o corpo de anjo!
E viva os arranjos dos corpos
Os corpos sempre se arranjam
Viva o corpo de ângela?
Anja viva o seu corpo...

Criar Nova Postagem. Um novo corpo que se cria.

Crio minha nova cara
Minha nova era
Com minha antiga Eva
Que quero até a maçã ficar velha e enrugada;

Crio minha nova cara
Com felicidade de dentes
Brancos de neve e adormecidos
Belos ares de primavera batida atrasada no peito;

Com pressa deito pra sonhar
Com calma durmo pra não acordar
Num susto brando
Momento sensacional
Sensitório
Sensível
Fracionário susto no tempo do ronco
Um bú que me tirasse do tronco a percepção;

E perdesse tudo denovo
A eva, a velha, a cara nova de nova era
E visse então o amargo corpo de outrora sem as auroras
Da mudança de estação.

quarta-feira, janeiro 11, 2006

No mais, reforço a afirmação de Gainsburg: Quant à moi...Quant à moi. Ça ne va plus très bien



Não vou nada bem.

Corpo Tao

Tao

Tô espremido. Até o osso. Até o cabo. Até o caroço. Tô espremido de cólera. Até a cólera. Até a cólera me consome o caroço, o cabo, o osso. O meu pescoço arde. Tô espremido até o estômago. Meu intestino queima. E o meu pau amolece a cada... Até meu pau amolece. Até meu pau amolece. E fico assim inflamado de febre, com esperanças de tolo. Fico a esperar o milagre do santo. Posso eu fazer milagre oco? Posso ficar a mercê dos meus doídos espremidos calos do osso, do cabo, do caroço. E rezar pro santo do pau oco que me dê a benção pro pensamento do desejo alcançar o pau e deixar duro, deixar todo, maciço, até o osso, o cabo, o caroço. Até o pau ficar duro. Até o pau ficar duro. Inchado até ao menos parecer um esboço que deve ser o tao do pau.

domingo, janeiro 08, 2006

Chatterton


Serge Gainsburg



Chatterton

Original de Serge Gainsburg + Adaptação de Seu Jorge

Chatterton, suicidou Chatterton suicidé
Kurt Cobain, suicidou Hannibal suicidé
Vargas, suicidou Démosthène suicidé
Nietzsche Nietzsche
Enloqueceu Fou à lier
E eu, não vou nada bem Quant à moi...
Quant à moi
Ça ne va plus très bien

Chatterton, suicidou Chatterton suicidé
Cléopatra, suicidou Cléopâtre suicidé
Sócrates, suicidou Isocrate suicidé
Goya Goya
Enloqueceu Fou à lier
E eu, não vou nada bem Quant à moi...
Quant à moi
Ça ne va plus très bien

Chatterton, suicidou Chatterton suicidé
Marc-Antoine, suicidou Marc-Antoine suicidé
Van Gogh, suicidou Van Gogh suicidé
Schumann Schumann
Enloqueceu Fou à lier

E eu, puta que pariu, não vou nada nada bem

Quant à moi...
Quant à moi
Ça ne va plus très bien

sábado, janeiro 07, 2006

Sigo meu rumo dois zero zero meia

Voltei de viajem. E voltei diferente. Voltei com saudade.
Voltei com ilusões de mais, talvez. Mas seja o que Deus quiser. Porque eu já não sei o que quero. Não sei o que espero se o que quero nem sempre é o que espero ver. "Pretinha, faço tudo pelo nosso amor, faço tudo pelo nosso bem, meu bem." São Jorge que anuncie minha sentença. Largo na mão do cosmos pra tentar viver na intuição... Bergson... porque controle das coisas racionais e lógicas parece ser ilógico pra mim.

Sabe tudo aquilo que combinamos? Que vá tudo à merda!

Ano novo e muita merda! Com cartão no topo do limite. Com o limite fora dos dez dias sem juros. E as juras, ah as juras, de amor longe de estarem por perto.

Voltar pra PUC em crise!

Por favor Brasil, seja hexa!

Porque o diabo, o capeta, o sem moral e sem vergonha daquele vendedor de colchões vai conseguir fazer de um inocente um ser ainda mais fudido frente aos cofres publicos... deixa pra lá, só quem sabe da história é que entende.

Voltei de viajem. Voltei diferente. Quero ter um cuidado pra isso não virar diário. No desespero é que vejo o quanto ainda falta pra eu ser artista. Escrevo tanta merda, falo tanta merda, componho tanta merda... e tanta merda! Merda, pelo menos é sorte no teatro. Quem sabe não seja um ano de merda nesses palcos, ruas, qualquer espaço, já que se faz em qualquer um hoje em dia?

Desejo a mim mesmo um ano amoral. Quem quiser-me que me queira. Jogo aos cosmos e que São Jorge me proteja.

Fico com
Nietzsche
Bergson
e Sade

Guimarães me acompanhe
Mario de Andrade vem chuva vai sol vem sol vai chuva está sempre grudado em meus calcanhares
Leminski tenho agora em meus espaços
e na cabeça Lenine canta enquanto encanto pelo ares

Sigo meu rumo dois zero zero meia

e os corpos de outrora se diluirão em temas de agora

Arre São Jorge que a viagem começa! O boi já sai encabeçado tirando vanguardeiros da frente. Corre mundo porque eu vôo enquanto tento ser poeta.

Sigo meu rumo dois zero zero meia. Quem quiser-me que me queira
Arre São Jorge! O boi tá encabeçado!
Corre mundo porque eu vou voando nas rédias de um cometa.

Meu convite tá feito. Os fatos, queimaram no crematório, consumados.