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quarta-feira, janeiro 18, 2006

Carta ao Corpo de Pasárgada

Pasárgada à 6 Km

Me pego na fração do tempo e penso e repenso qual deve ser minha vocação. Gosto das artes, como gosto!

Toco violão
Brinco de percussão
Canto mal mas tenho o meu charme
Componho
Na composição escrevo e escrevendo faço poesia e filosofia
Estou longe de escrever bem
Dá pra enganar na cambalhota
Circo, me bota corpo bonito

Por enquanto não vou muito além disso

Sou classe média
Fico no meio
No medíocre
No que é bom mas não é ótimo
No que me dizem ser bonito
Mas será que é autêntico?

Toco uma punheta
Brinco de ser xereta
Canto de sala com seu charme de bordel
Componho
Na transposição inverto e invertendo faço esteria e demagogia
Estou longe de falar bem
Dá pra enganar os idiotas
Circo, me bota um tanque no abdômem

No entanto, e o Homem, como fica tudo isso?

Pelo pelô pélo o pêlo no pelourinho. Chicotadas nos pormenores da vida, na bunda, na virilha. Nesta terra que tudo planta e tudo dá, só não dá pra ser artista. Numas e noutras penso em ir pra longe, lá pros interiores, viver de natureza, a verdadeira poesia que salta aos olhos, aos ouvidos e à pele. Reescrever Macunaímas e enlouquecer no colo da amada. Fundar comunidades e tentar uma nova sociedade. Plantar para comer, criar para viver e não pensar em sobreviver. Ô utopia! Sumir dessa selva de pedra que é um emaranhado de redes de pesca arrastando as tartarugas.

Não fujas
Não fujas
Fujas
Fujas
Fujas

Gosto das artes, como gosto! Mas aqui, nem assim me sinto bem. Ficam os amigos, fica a família, fica. Fica que eu vou. Se quiserem venham pra Pasárgada comigo. Venham que eu não fico, não fico porque vou. Vou encontrar os modernistas, Mário me espera ansioso. Estou saudoso. Lá não precisamos de dinheiro que aqui compra até felicidade. Lá está tudo mais ameno e aceitam bem as artes. Assim como aceitam os padeiros. Temos emprego e todos nos adoram. Nos têm como sociais. Em Pasárgada todos são amigos do rei. Lá o tempo pára pra romaria passar. O amor é mais amor, o sonho é mais sonho, o tesão é mais tesão. O choro é mais choro e a dor é mais dor. Não existe maquiagem, as máscaras caem e todo mundo fica nú! Vamos para lá encontrar Godot ao lado de Becket rindo das nossas caras que chegam com pavor. Cumprimentar São Jorge com seu cavalo de pau. E cuspir fogo no rabo do Rei. Lá todos são amigos do Rei. Lá todos podem ser autênticos gays. E os heteros serem caretas felizes, livres dos rótulos do modismo. Tudo é livre de qualquer machismo, feminismo, vanguardismo, cismos de ismos, rótulos e categorias que levam ao preconceito. Lá seremos perfeitos! Posso ficar debaixo da árvore, no pé da cachoeira, escrevendo Cartas aos Corpos e beijando a Ângela a vida inetira. Entender o que é intuição, distração e criação artística. Entender o que é tempo, espaço e metafísica. Entender o que é afeto, amor e tesão. Entender a morte e a vida. Os dualismos e os poliedros, polifaces, policorpos e políticas. Entender a dialética, o épico e a loucura. Entender a estrutura, a matéria, a base, o chão, o meio e céu. Entender a música e a emoção, o teatro e o pensamento, a poesia e a lírica humana. Entender a tentação do inferno e a religião. Entender o sagrado e o profano. Entender o milagre e encontrar Jesus Cristo Pop Star. Entender o que é e como funciona tudo isso. Como se dá no meu corpo. Entender os micropoderes e o sorriso da Monalisa. Entender a pulsão em Nietszche e a pulsão em mim. E desejar que tudo seja Eterno Retorno! Vou me embora pra Pasárgada porque lá posso viver o caminho, o processo, o fluxo do rio e o fluxo do tempo, os instantes presentes. Posso plantar pra nascer, a semente perfeita pra árvore perfeita de frutos perfeitos de sementes perfeitas. O ciclo, o círculo, o circo. O circo... o circo...

E eu num sonho
Não me acordem
Não me acordem
Me sacodem só quando terminar a viajem

Paiê, falta muito?

Meu pai? Já deve estar lá conversando com o Mário...

2 comentários:

Anônimo disse...

lá tem pizza? macumba batuque? sossego silêncio?
tem o inferno? tem improviso? impropério?
cachecol? lá tem?

Anônimo disse...

posso ir junto?