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sábado, julho 22, 2006

Viver de pão e circo

Ai que dor nas costas dessa vida de levar o circo fora da carroça, erguido no braço, equilibrado na cabeça. E aí só sobram as pernas pra correr no chão a pressa de chegar n'otra praça e voar pro próxim número, se desdobrar em três, fazer outra vez e outra vez e outra vez. Colocar o pé nas avessas, dobrar ao dobro as dobras. E lá vamos nós outra vez, levar o circo fora da carroça, erguido no braço, equilibrado na cabeça. Ai que dor nas costas. Aí só sobram as pernas pra contar um, dois, três e fazer tudo outra vez. Fazer a troça, abrir a trouxa e apresentar o drama. O malabarismo, o trapézio, o vôo, o equilíbrio, o sorriso do palhaço, o avesso, o avesso contorcido, o avesso e o monociclo, fica na dor nas costas dessa vida de levar o circo fora da carroça, erguido no braço, equilibrado na cabeça. Fica nessa mania de montar e desmontar a lona, de mudar de rumo toda vez que algum parece estar perdido. Fica pra outra praça porque nessa o publico ficou na validade vencido. E o circo teatro chegou com a Paixão de Cristo! E fico nesse sacrifício de ver assim, viver de dor nas costas, sem carroça, sem braço, sem perna, mas também sem dia perdido. Ah, ganhei meu dia desfazendo a troça, abrindo a trouxa pro rufar de tambores: o galã entrou pro drama! E a platéia chora, e o circo volta pro meu sonho adormecido. Levanto da cama fazendo meia-hora, vou pra rotina seis-horas-meia-noite com dor nas costas, dessa vida de levar tudo fora da carroça, erguida nos braços e arrastada na consciência. O que eu queria mesmo era viver de pão e circo, no melhor dos seus sentidos.

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