Pesquisar este blog

sexta-feira, março 16, 2012

Samba Quadrado

Ando meio mal dos humores
Insatisfeito com os rumores
Descrente dos senhores
E senhoras que me vêem.
Se minha vida fosse mais de boemia
De esculachos, meias lidas,
Meios fios e meias medidas
De uma dose a mais de amor...
Se da metade não entende nem um terço
Podes crer que eu não mereço
O julgamento que me tens.

E na favela o sol nasce atrasado
Nego já tá no trabalho antes do galo cantar
Quem dera eu ter ficado com a morena
Nua, tem pele serena e suspira quando chego.
Alço vôo, sigo em dia, e sem consolo,
Ao patrão mais um esfolo, um pedaço do meu couro, sem acrescer nem um vintém.

Como um canto sem seu coro,
Uma sina sem penar,
Como um santo em oratório sem uma reza a iluminar,
Segue a vida com dois pesos, dois salários e respeitos,
Há mais deveres que direitos
Mais discurso que viver.

Porque é que a vida, delicada como donzela,
Prefere outra aquarela, outra sequência de cores?
Mesmo se cinza, prata, chumbo, é a cor dela
Fica desejando aquela que é mais a cara aos amores.

E colorida menos fica a sequência,
Marcada a cumprir sentença
Por causa de um mal entendido qualquer.
Quem foi que disse que o sofrimento é que é a regra
Pro peão que, aflito, espera
O pagamento do mês?

E o sol desce muito antes do horário,
Nego nem voltou do trabalho
Tanto mais viu a mulher.
Se há partida, tem de haver a despedida,
No boteco ao fim do dia
Samba um choro quadrado.
Quando às cartas vira a mesa
Aposta tudo o sonhador
Se o jogo é com a vida
O destino é o ganhador.

Ando meio mal dos humores
Insatisfeito com os rumores
Descrente dos senhores
E senhoras que me vêem.
Se minha vida fosse mais de boemia,
De esculacho, meias lidas,
Meios fios e meias medidas
De uma dose a mais de amor...
Se da metade não entende nem um terço
Podes crer que eu não mereço
O julgamento que me quer.

Nenhum comentário: