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sexta-feira, março 23, 2007

Só digo que sei

Já vi esse papo outras vezes. Já ouvi esse filme outras tantas. É uma impressão do que é, e não é bem no fundo. Do que se fala mas não se mostra do que não fala. Da sombra preferir deixar assim à falta de luz. Dizer meias-verdades e dar meios-suspiros achando que o outro é sempre um meio-entendido, meio-cego, meio-besta, meio-bosta, meio-sabido. Mas é sabido se fazer de meio, no manso dos miúdos captar o captável além do aparente notável. Entrar no inverso, nas meias-palavras, nos meios-versos, nas palavras de costume ditas pela metade, nas ausências do inteiro se percebe a ponta do trágico. O canto do bode chega com a gota, é fruto da falta de espaço causado pela chegada do insuportável. O meio não se sustenta, o ser quer ser completo, sempre. E na explosão da completude rompem-se as estruturas da carcaça e a tragédia se instaura na magnitude do acontecimento. Nada mais pode ser escondido ao bolso para ser acessado ao deleite da necessidade casual, no conforto da escolha da hora, na loucura do desligar de enterruptores dos valores éticos que beiram a liberdade de um lado e a mágoa do outro, o prazer de um lado e a dolorida indiferença para o outro, a vida em um aspecto no momento um e a outra vida no momento dois. O bolso fura, a moeda cai virada com a cara pra cima, te olhando, te dizendo que não há mais jeito de esconder nada porque já se sabe faz tempo: os outros olhos enxergam por inteiro, se fazem de caolho mas são duas retinas que brilham à luz da vida. Os fatores se alinham ao acaso certeiro, confirmam a intuição treinada por uma observação não convencional, longe de ser científica, muito mais melodramática, mas nunca menos inteligente. A verdade deve então ser revelada: a tragédia é a síntese do surto reprimido da verdade explodindo em revelações que não eram vistas, mas sabidas. A gente sempre sabe da tragédia. Vem nos poros arrepiados a imagem que dá sentido a tudo, que traz à tona na memória um passado que não gostaria que fosse futuro e agora é presente contínuo. Uma onda de gerúndios aflitivos, determinados em ser infinito presente. Como um trapézio em balanço, uma lonja que te segura firme e você não cai, somente, cai ao infinito presente segurado à eternidade. E o buraco não tem fim no fundo porque volta pelo céu a queda em rodamundo. Talvez haja assim uma diferença de vontades. Fixo meus pés no chão e o balanço é um vai e vem da batida do pulso, um tum-tum que me tira dos eixos das pernas, coluna, pescoço e me faz girar alí parado, de olhos fechados sem a noção de largura. O mundo é o escuro da gente, brilhando imagens ora aqui, ora acolá. É o suficiente. Miúdo, sozinho, eu. Com a vontade do coletivo, que é mais que o coletivo conglomerado de gente em si. Minha turma é todo mundo e ninguém. Eu, meio-eu, eu e meio quero sim. Acontecendo por aí do meu jeito. Só não quero engano empurrado pela garganta, à força, mudando a percepção do mundo do meu olhar viajante, confuso de idéias, inexpressivo na lógica, rico no caos, inteiro, sobretudo. As meias-coisas já não cabem no meu pé. O que sei é o que sei. O que não sei é só o que não atentei ainda. Pesco a volta e a volta em mim quem dá é a órbita de tudo. Só digo que sei.

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