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quinta-feira, março 08, 2007

Reação Criativa

Nem sei qual a razão exata de escrever pro nada. Será um virtuosismo feito pra vangloriar a minha pele no virtual? O meu corpo na rede não é o meu corpo no mundo. Nem meu corpo no tempo. Nem meu corpo não há. Não há sem a matéria memória de Bergson, do corpo enquanto balaio receptivo de imagens e produtor de ações. Meu corpo é como o dele, como o de todos talvez, um centro de respostas a imagens, um centro de ação e não de representação. Querer colocar a minha ação nesse espaço de imagens é querer transferir para ela o caminho que seria o contrário. O corpo é parte do mundo material e não o mundo material é parte do corpo (lembrando que matéria e energia são indissociáveis, portanto quando falo de matéria existe alí a energia inerente a ela), ao mesmo tempo que as imagens existem nesse mesmo mundo, o fato delas existirem na gente não passa de pura semelhança entre fatores: imagem e corpo existem no mundo independentemente, se um morre o outro continua vivo, se separam e se juntam como matéria, como se juntam os átomos de dois elementos químicos compatíveis um ao outro. O ponto que deve ser visto, então, não está na simples existência de um ou de outro, por conseguinte, mas na intersecção entre eles, no momento do cruzamento entre canais perceptivos do corpo e estímulos externos, as imagens (considerando o pressuposto de Bergson de que imagem é um conjunto de matérias). Nesse momento de faísca entre a matéria externa e a matéria corporal dotada de esponjas de imagens, os sentidos, acontece o que chamo de reação criativa, ou seja, o corpo percebe aquela imagem e a recria de acordo com seus aspectos físicos (formas, cor, volume, temperatura, cheiro) e culturais (o julgamento moral, o despertar de lembranças, o despertar de emoções presentes na memória histórica do ser). Sendo assim há o momento de identificação material da imagem/objeto e de reflexão psicológica. Não separadamente, mas de maneira cruzada, cheio de intersecções e sobrepassos entre ambas reações criativas, que podem ou não corresponder a realidade, mas sempre a põe em dúvida, a partir do conceito de que o que é real já parte dessa percepção duvidosa do mundo, a realidade é sempre um ponto de vista da reação, que já é um ponto de vista intuitivo do homem a respeito do mundo em que vive. Por isso critico a perfeição da ciência e os dogmas da religião, e os dogmas artísticos de vanguarda. Por isso não gosto dos denominamentos acompanhados da palvra "novo". Por isso não gosto das supremacias de grupos propondo estéticas ao mundo condizentes à verdade absoluta. Essa verdade parte do pressuposto da sua reação criativa ao seu própio mundo, cheio de intersecções do tocável calculável e do psicológico subjetivo. Portanto, voltando à questão inicial e negando a afirmação em sequência, não escrevo para o nada, escrevo para o mundo, para o cosmo. O mundo me enche de imagens e eu as troco com o mundo, a partir das minhas reações criativas, produtoras de ação. Transfiro, ou até mesmo transcrevo, essas reações às palavras organizadas em texto, numa dramaturgia verbal ou não verbal, cênica ou literária, ou seja, crio memória fora de mim. Pra quem? Não importa, pra algo que é real, que é o virtual. O virtual também é algo do mundo, também é matéria e energia atravessando entre si. Também é imagem. A produção de conhecimento hoje em dia parece estar em crise de conceito de publico, que fica cada vez mais restrito às especificidades da área, uma vez que cada vez mais artistas estão produzindo para artistas, cientistas para cientistas e religiosos para religiosos em suas quase, ou totalmente, seitas. O conceito de massa, de povo, acaba abarganhando um grande grau de entretenimento vazio, de jornalismo sensaciolnalista vazio, de imagens divinas vazias e generalizadoras do bem e do mal. Enquanto o meu alcance for o do espaço virtual específico, acessado através do endereço eletrônico, esperando que algum corpo transfira sua curiosidade para sinais binários em busca de uma Carta ao Corpo, escrevo ao virtual como possibilidade reduzida, mas útil, de comunicação. O meu intuito de artista é poder que minhas reações criativas causem outras em outros e para isso ela precisa estar jogada ao mundo, transformada em imagem. Já é o começo da mais babaca fórmula de comunicação: existe o emissor, a informação, falta o receptor. Esse texto é matéria, energia e movimento E=mc(ao quadrado), são diretamente proporcionais entre si, são imagem. Porque então estaria inversamente proporcional ao mundo? Pra estar de acordo ao cosmos escrevo pra ninguém, que já um alguém: eu mesmo.

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