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segunda-feira, março 05, 2007

Escrita Sensorial - Exp. II - Pé frio

Experiência de escrita sensorial 2 - tatopode (na sola do pé)
Escrito enquanto meu corpo reage aos estímulos táteis provocados por duas bolsas térmicas Termo Gel, de tamanho médio, recém retiradas do congelador, localizadas uma em cada sola do meu pé.

Observação 1: Calço 43. A bolsa não pega o pé todo uniformemente, os dedos ficam pra fora.
Observação 2: Como não existe silêncio absoluto no mundo, os sons predominantes são as vozes, ora altas, ora baixas, oraexaltadas, ora tranquilas, dos vizinhos arrumando o quintal.

Segunda. Semana. do mês, qual mês? Dramaturgia de Saramago. Dramaturgia é a liturgia do drama ou o drama é a reza... ou é ora, ora se é hora nem sempre dá pé no alicerce do tempo. Mas tempo é música e dança é espaço e teatro é palavra. Não é nada disso. Não tem nada haver. Não existe é. E pronto. Surgiu um dia, na casa da tia de São Tomé, na vila de leopoldina, no alto sape da periferia. Importa não, o que importa é o pé. O pé da lógica e não se a lógica dá pé. É o início da cabeça quente. Cachaça também da aquela fervura, mas de quentura mesmo, não de imaginação que sai do dedão do pé e segue em corpo ambulante transeunte errante por aí. Quero falar de início. O céu do chapadão, ou o xampu de ponta-cabeça, ou índio pelado, ou a cobra comprida, ou o cumprimento apertado, ou o acerto de contas, a calculadora, ou a justiça de justiceiro com armas. O início da guerra, da festa, da laia, da praia, da vaia, da saia, da raia, do nadador. Do moço, do fosso, da frestra, do trosso, da lasca, do sono, da bosta, do presidente, do brasil de brasa, do brasil de gente. Da vida, da seresta, da música sertaneja, do luar do sertão, do Dominguinhos, do Domingão, de quem pariu o Faustão. Da ditadura, do globo, da rede, do torto, da letra, da barba, do véu, da cachoeira, da noiva, dos deuses, dos rebeldes, do Deleuze. Da política, da prosa e da poesia e da poesia e da poesia. Da filosofia, da arte de contar mentira, da seca, de Amelie Poulein Du Soleil. Do palhaço, do porta-retrato, dos cachorros, dos aniversários de cachorros, do ridículo, do violão. Queria falar de fim... mas fica pra outro dia. De mim fica assim mesmo de nós. De dois meus pés em fria relaxa e relaxa nessa dramaturgia do sangue que sobe e que desce e que bate no centro e que desce e que sobe e pisca meu olhos, arroxeia meus lábios, me nutre e me dá fome e por fim esquenta a minha pele. Queria falar desse fim só: quente.

Um comentário:

Anônimo disse...

salve amigo!

A pós modernagem presente nessa caótica e prosaica reflexão. Traz-me o frio dos pés ao juízo a percepção da avalanche de pensamentos mais a poética da incerteza. Grato, luciano.