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sábado, novembro 05, 2005

O Corpo Ponto de Referência

E essa noção centro-periferia? Quero criar a noçcão de ponto de referência do próprio corpo. Eu estou aqui...

Se algum aspecto esse meu corpo Lê quer romper logo de cara é essa relação que, julgo mesmo, foi criada por um asno e seguida por outros tantos. Pra que falar tão em dicotomia? Centro e Periferia... porque não se divide em milhares de partes ou considera-se tudo uma unidade? Pra que essa briga favela e Pacaembú. Se nessa estrada Perdizes da vida eu tô nos dois. Todo santo dia! Trem Calmon Viana estação de Comendador Ermelino; Brás - metrô Barra Funda. Subo a ladeira e chego na PUC. Ver gente bonita, saudável, inteligente. E mal sabem elas que cruzei com gente lendo Nietzsche no vagão... concentrado. Ou então quando pego meu fusca 73 e vou pela Avenida Assis Ribeiro, divisa com Guarulhos. Heita fim de mundo! Sou um privilegiado. Sou um dos poucos que sabe que viver no centro ou na periferia é só uma questão de olhar geográfico. E a diferença pára aí. Ou pararia se não fossem os asnos seguidores da teoria do que é longe não é interessante. Sem contar na violência! Nossa, quanto tiro! Quanto mano! Quanta maloca! Saudosa maloca, maloca querida... e a cultura? Parece que só existe até a Mooca... mas eu tento, tento apresentar uma maloca lá de Cangaíba (divisa com Guarulhos, pra quem quiser se localizar. Perto da Penha também, esse "centro da periferia") mas ninguém se interessa em ver. Pegar o trem e dar de cara com uma realidade longe da "em dez minutos eu chego, no máximo meia-hora" ver gente acabada de cansada mas mesmo assim gritando, esguelando, no truco dentro do vagão... não é pra qualquer um não. Tem que ter estômago. Vagão cheirando mofo, com goteira entrando pela ventilação e chão de madeira como remendo para os buracos no assoalho. Sem contar o aperto. Ser sardinha no trem... impossível evitar o contato com esses corpos "periferia". Categorias, categorias, categorias... pois eu nasci e cresci sabendo que sou colocado à margem. E a margem permaneço. Desenvolvo esse corpo dilatado pra atingir também o meio. Quero ser corpo Lê inteiro preenchido. Transitar livremente pelas categorias criadas para serem separatistas. Achar as brechas e atar os nós. Misturar as linhas, criar as malhas de comunicação. Perceber um todo com milhares de partes com particularidades infinitas. Perceber que cada fatia tem seu centro e sua periferia que tem seu centro e sua periferia, seu centro e sua periferia e assim por diante. Como coisas complementares e que não exsitem sem o seu conceito oposto-complementar. Esse meu corpo que se desmembra e se concentra em cada movimento de centro-periferia, periferia-centro, centro, periferia, periferia, periferia, perifer, perif, peri, perímetro, silhueta, corpo. Tenho meu corpo como referência, onde eu estiver existirá um ponto. Pra minha localização, pra minha conceituação de ponto de referência e não mais de centro-periferia, porque assim o ponto só pode estar em um dos dois aspectos... e a arte é mais do que isso, o corpo está além das dicotomias.
Sou da cidade
Sou caminho que une
Sou pescador dos nós entre as ambiguidades superficiais
Sou mergulhador das questões de minha gente
Sou pedestre da margem Tietê
Ligo a Zona Oeste e a Zona Leste pra discutir a arte em seu valor universal, dilatado
Mas cada vez que mais sou percebo que só tento ser
Tento ser caminho que une
Tento ser pescador dos nós
Tento ser

Até quando teremos que esperar as ações pontuais surtirem resultado? Destruir os micropoderes... tudo isso me consome, minha energia some e cada sono não é suficiente pra me acordar de novo pra esse mundo mudo... surdo... de quem não quer falar, de quem não quer ouvir.

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