Pesquisar este blog

quinta-feira, setembro 12, 2013

C...r.......p..............


Certo dia um corpo se encontrava fora de si, numa esquina de uma grande cidade. O corpo estava fora do corpo. O corpo não se reconhecia, permanecia, alí decapitado de sentidos, despecaminado de moral, fraturado no mais desconexo sentido de si. Um corpo trocado, como se o membro fosse o sexo, o sexo o cérebro e o cérebro o estômago. Que ardia de fome. Mas a fome não era fome, talvez fosse saciedade. Dor por estar saciado. Talvez. Talvez exista essa dor. E naquele corpo a dor não era exatamente dor. A dor poderia parecer mais com uma latência, um tempo adormecido, uma sensação de paralisia ou de formigamento. Os sentidos não podiam ser mais os mesmos, não naquele corpo. O corpo não era mais o mesmo, nem era corpo. Ou era? Era de outro jeito. Como se o corpo tivesse parido a si mesmo em sua não-semelhança, quase como se tivesse medo de si próprio. Um corpo que quisesse fugir de si. Deve existir essa fobia de estar em você mesmo, deve existir. Aquele corpo queria ser diferente, não-natural, fora da ordem dos fatores, fora da ordem, fora da ordem social. Aquele corpo estava se experimentando… E não seria ele, o corpo, talvez a própria experiência de si? Como se partisse o corpo para uma aventura transcendental sem sair daquela esquina cotidiana. As esquinas proporcionam dessa experiência. Afinal, quantas não são as encruzilhadas encrustadas na carne? Certo dia um corpo se encontrava num lugar que nem reconhecia mais como esquina. Não reconhecia mais nada, nem o seu mais sincero nu. Evaporou no pó da cidade, foi inalado em alguma brasa de cigarro, escapamento de carro, pulmão de velho ou criança, não sei… esse corpo agora é ar, e só se movimenta em dias de ventania.

Nenhum comentário: