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quinta-feira, setembro 05, 2013

Carta ao Corpo

Meu corpo é minha estética, minha ética, minha política, minha cultura, meu mito, meu rito, meu destino; minha práxis, meu caminho, minha tese, meu signo, minha carta, minha prece, minha tática, meu domínio; minha massa, minha Tebas, minha Atenas, minha Eurásia, latinoamerica, minha África, meu canion, meu fundo de oceano; meu corpo é tudo isso; meu corpo é isso e tudo é meu corpo; que é minha glândula, minha ânsia, meu gargarejo, meu gaguejo, minha saliva, meu desejo; meu corpo é Freud, é Foucault, Nietzsche, Deleuze, é Artaud; Galeano, todos os Campos, é Caetano, Zé e Djavan; meu corpo é Ân; meu corpo é trato, meu corpo é parto, é papo, reto, de sapo que o corpo é úmido, meio terrestre, meio aquático; meu corpo é curvo; meu corpo anfíbio; meu corpo é salamandra, não é malandro, mas é mistério, é solitário, meu corpo armário, meu corpo arma e meu corpo ama; meu corpo arde, meu corpo inflama; meu corpo é minha cidade, meu desespero, minha particularidade, minha física quântica, minha imensidão atlântica, meu infinito de elétrons; meu corpo é meu carma, minha carne, minha sarna, minha pobreza, meu vintém; meu corpo não tem; meu corpo é novembro; meu corpo é minha vontade de estar nu, utopia e heterotopia, meu corpo pia um poema de Manoel de Barros e uma música de João Bá; cá, meu corpo é tabu; lá, meu corpo é Pasargada, amigo da plebe, do rato, do gato, tartaruga, e da lebre; meu corpo indifere o louco do normal; meu corpo é minha sala e meu quintal, meu animal, meu social; mais animal; meu corpo é crocodilo, réptil, intuitivo; meu corpo não está fora, meu corpo não está dentro, meu corpo está entre e muito além do pensamento; meu corpo é minha fronteira, minha trincheira, minha guerrilha, minha penicilina; meu corpo é minha propaganda de margarina; meu corpo é minha música, meu teatro, minha escultura, meu livro sem capítulos, minha estátua, meus testículos; meu corpo é todo vício; meu corpo, essa costura, que não encontra mais postura, é minha fé fêmea, laqueadura, desestrutura, não sabe mais ficar em pé; meu corpo é minha ré, minha cinza e meu resquício, meu medo e meu omisso, minha torre e o precipício, minha prole, meu hospício, meu monólogo e meu comíssio; meu corpo é um diabético se acabando em açúcar, múmia egípcia se acabando em atadura, um morto indigente se acabando em formol; meu corpo é sol, chuva, e telhado, corpo de vidro, corpo de gato; corpo bandido; meu corpo não é fim, nem é meio, é fio e centeio, é contínuo no tempo; nasce gente e nunca morre; meu corpo corre.

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