Das mudanças do corpo cabem as circunstâncias da vida. Cresço e, ao que amadureço, me escancaro. Aqui há minha porta aberta, onde parte o prolongamento de meus braços e pernas além do meu ego de ator e força circense. Partem minhas palavras em corpo, em carta, em viva poesia, mesmo se em prosa vier a narrativa. Sei que espiam e não deixam pistas, mas, se puderem, comentem... e deixem um pouco da sua carne poética em minha cerne criativa. Experimentem...
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sexta-feira, setembro 01, 2006
Chove mesmo chove. Lava essa cidade em fluidas águas, molhadas de suor do trabalho. Paulistano arde, paulistanos da Bahia, de Sergipe, Paraíba, todos cabem nesse Brasil metrópole, brasil de economia. É só olhar o quê desce o morro. Barro, lixo, na enxurrada vem gente rústica, vem nessa acústica onda de certezas, de certas pobrezas com cara limpa, lindo aspecto e glórias incabidas. O recheio é oco e oco também é a barriga e a cabeça e a cabeça e a barriga, vento e saudade. Saúde? Nem tento, nem arrisco, se é saúde atestado médico e viver assim a sono e hora todo Dia de Maria. Brincadeira de escola é o qu'eu queria. A agonia é sem volta. Casa e romaria na favela, o cruza-cruza é todo beirando a rodovia. Métodos de vida. Ninguém escuta não, vive-se apenas. Nem se aprende, nem se ensina. Só recebe nas solas o fio da roca que nervosamente se fia. O ônibus vai gastando óleo diesel e estou certo de que essa é a minha anatomia, esse é o meu corpo, é o corpo que arrependia. Mas na volta não tem volta, a estrada é sempre outra a cada vez que se olha para trás. Os caminhos são tantos que das escolhas não fazemos conta, escolhemos e seguimos sempre, sem nem se ver nelas desenhado, nem em previsão de cores e formas. Quando me olho já me vejo vestido com roupa feita medida, cabível no corpo, grudada que não sai nem a ferro e fogo, tesoura e navalha. Feito roupa molhada de chuva lavada em cola sem saída. Ando e me grudo, me prendo sem nem ver, em esquinas, casas, praças, igrejas, prédios, ruas, viadutos, avenidas, lojas, árvores, postes, cães, gatos, trens, calçadas, rios, poluídas fachadas, pontos de ônibus, guardirreios, nem freia, nem pára, carrega a cidade inteira intalada na garganta, amarrada nas costas. Não importa pro lado que vire, pro rumo que siga ela vive ali sobre, fazendo careta por detras, zombando postera, querendo ir na contramão. Não me deixo assim por defeito com corcunda de chaminés e carros, soltando gases e sirenes a torto e a direita. Sigo indo carregando e indo enquanto sirvo de matéria prima pra metrópole, sou combustível rico em carbono, duradouro até a aposentadoria em cinzas fáceis de voar por esses ares carregados de maio-branco-meio-preto, sou carvão pra esse brasil de economia, vermelho de fé, de tanto andar a pé e de raiva.
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